Devido o adiamento do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020, ao menos 3,5 milhões de estudantes deixarão de ingressar no ensino superior privado, é o que diz o levantamento divulgado na terça-feira (28) pela Associação Brasileira das Mantenedoras do Ensino Superior (ABMES), que faz parte da 4ª fase do estudo “Coronavírus e Ensino Superior: o que os alunos pensam”, da empresa de pesquisas educacionais Educa Insights, divulgado pela ABMES.
De acordo com a Associação, o número é referente a estudantes que se inscreveram no Enem de olho na nota de desempenho para conseguir uma vaga no ensino superior, com base na edição de 2019.
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é uma avaliação composta por 180 questões de múltipla escolha oferecida pelo Ministério da Educação (MEC) em conjunto com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Criada em 1988, a prova tem como objetivo avaliar a qualidade de ensino e desempenho do aluno em âmbito nacional e ser uma das principais formas de ingresso em universidades públicas e privadas em todo país.
A nota obtida no Exame é usada como critério para ter acesso a programas públicos como o Universidade para Todos (Prouni), que oferece bolsas de estudo parciais (que cobrem 50% da mensalidade) e integrais para cursos de graduação e de formação continuada em universidades particulares; e o Financiamento Estudantil (Fies), que oferece empréstimo para o pagamento de mensalidades, de acordo com a renda do estudante.
Neste ano, ao todo, o Enem 2020 teve 5,8 milhões de inscritos – 96 mil na versão digital da prova.
Através dos dados da pesquisa divulgados pela ABMES é possível perceber os impactos negativos que o adiamento do Enem teve sobre os alunos participantes do Exame: 76% dos entrevistados declararam que o principal motivo para realização do Enem neste ano é conseguir o melhor desconto possível ou bolsa de estudo. A maioria das matrículas (64%) no ensino superior privado são feitas após a divulgação dos resultados e início do ano letivo. De acordo com a ABMES, 80% dos estudantes realizam a matrícula após o conhecimento da nota obtida.
Evasão do ensino superior
Segundo o diretor-executivo da ABMES, Sólon Caldas, existem quatro fatores que podem contribuir para a queda de matrículas no ensino superior e a formação de jovens.
Evasão e inadimplência: com o aumento do desemprego e a redução de renda, os matriculados enfrentam dificuldades de pagar as mensalidades; novos ingressos estão ainda mais reduzidos;
Cortes no financiamento estudantil: o governo federal propôs reduzir em 46% a oferta de financiamentos de mensalidades em universidades particulares a partir de 2021;
Reforma tributária e aumento de impostos: texto prevê aumento de impostos de até 11% para instituições de ensino superior privado, o que será repassado para as mensalidades;
Prouni: MP 934 aprovada no Senado vincula o ingresso de alunos via Prouni à divulgação do resultado do Enem, o que impediria na prática a seleção do Prouni do primeiro semestre de 2021.
“Não haverá ingressantes por meio do Enem no primeiro semestre e governo ofereceu mudança de impostos que vai onerar o setor em até 11%. Quando houver repasse de até 11% na mensalidade, o aluno vai evadir”, afirma Sólon Caldas.
“Junto com isso, governo está retirando do Prouni alguns tributos, que a instituição, ao oferecer a bolsa, teria abatimento desses tributos. Se o governo está tirando das instituições estes tributos, às instituições não vão oferecer estas bolsas. Estamos com dois problemas que podem levar ao apagão de mão de obra nos próximos anos: o Enem e a reforma tributária, com aumento de impostos e a retirada da isenção do Prouni”, reflete Caldas.
Por Willian Netto, com informações da ABMES – Edu Notícias