Sabe aquela angústia que sentimos quando olhamos no celular e vemos dezoito ligações perdidas da mãe? Ou então aquela sensação ruim quando recebemos uma mensagem do namorado ou da namorada dizendo “Preciso conversar com você”. Pior ainda quando é do chefe, que faz questão de adicionar a palavra “urgente” ao fim da mensagem. Dá até calafrios. Como poderíamos nomear essa emoção ruim? Seria ansiedade? Seria estresse? Ou será uma crise de pânico? Bom, na realida de o que muda seria a intensidades dos sintomas.
Não me proponho aqui a discorrer profundamente sobre a diferença entre estresse e ansiedade, o fato é que ambos existem e são reações normais. Há, no entanto, um ponto em que o estresse e/ou a ansiedade se tornam prejudiciais e até patológicos. Tal limite não é muito claro e suas diferenças são sutis, de forma que ambos os conceitos são muitas vezes utilizados como sinônimos. Para o nosso organismo, a diferença é menor ainda, as respostas fisiológicas ao estresse e à ansiedade são similares e elas podem ser benéficas ou prejudiciais para nossa sanidade física e mental.
Sabemos que mente e corpo são intrinsecamente conectados. Biológico e psicológico conversam, interagem, influenciam um ao outro de forma mútua. O filme “Divertida Mente”, da Disney e Pixar, ilustra isso de uma forma muito interessante. No longa as emoções da pequena Riley são representadas por personagens vivos e conscientes dentro de sua cabeça. As emoções de desprezo e de nojo são re presentadas pela personagem Nojinho, cuja função é impedir que Riley coma algo que lhe fará mal. Podemos notar nesse exemplo que emoções de nojo e desprezo (psicológico) impedem que o organismo (biológico) seja prejudicado.
Se a mente e o corpo, a psique e o orgânico, estão tão profundamente conectados, como se daria essa interação em condições prejudiciais de estresse e ansiedade? De que formas estímulos aversivos psicológicos poderiam alterar o funcionamento do cérebro, das glândulas e dos outros orgãos? No livro “Cem Bilhões de Neurônios”, 2005, o doutor Roberto Lent explica essas alterações, dando destaque a algumas respostas fisiológicas, como a liberação de adrenalina, a secreção de hormônios relacionados ao estresse e à baixa da imunidade.
Nessas situações mais prejudiciais, os ajustes fisiológicos atingem também o sistema imunológico e endócrino. Então, além de respostas como a taquicardia (aceleração dos batimentos cardíacos), a taquipneia (aceleração do ritmo respiratório), a sudorese, entre outros, há também a liberação de adrenalina e noradrenalina no sistema e essa última, por sua vez, acentua e prolonga as respostas fisiológicas citadas acima.
Além disso, os altos níveis de adrenalina e nora drenalina, juntamente com a ativação contínua da amígdala (estrutura cerebral intimamente ligada ao medo e suas reações) levam à ativação conjunta de estruturas neuroendócrinas, denominadas de eixo hipotálamo-pituitária-adrenal. A ativação desse eixo no organismo resulta na liberação de um grupo de hormônios e o mais conhecido é o cortisol, também chamado de hormônio do estresse.
O grupo de hormônios do cortisol tem também ação anti-imunitária e anti-inflamatória, de forma que, quando presentes constantemente no corpo, podem abaixar a resistência a infecções. Por exemplo, muitas pessoas ansiosas ou depressiva desenvolvem gastrites, infecções de repetição, piora nas crises de asma ou alergias.
Outros possíveis efeitos da ansiedade crônica são o aumento da suscetibilidade do indivíduo a doenças respiratórias e cardiovasculares, sendo especialmente determinante da ocorrência de infarto do miocárdio, segundo o Dr. Roberto Lent. Convém citar uma frase do especialista em psicofarmacologia, Dr. Gerald Crane, também conhecido como “ O Espantalho” das histórias do Batman, da DC Comics, “Eu respeito o poder da mente sobre o corpo. É por isso que faço o que faço”. De fato, nosso cérebro produz uma mente que, por sua vez, tem grande influência no organismo, incluindo no próprio cérebro.
Para termos saúde plena, precisamos conhecer como nosso ser funciona. Nós não somos apenas um conjunto de átomos ou um aglomerado de células. Também não somos só uma consciência abstrata flutuante. Para sermos completamente saudáveis, precisamos cuidar de todas as partes: mente, corpo e espírito.
Por: Tiago Pereira Damaceno
IMPI–Instituto de Medicina e Psicologia Integradas
RT: Dalmo Garcia Leão CRM 4453
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