O aspartame, o principal adoçante de refrigerantes dietéticos, entrou para a lista de substâncias “possivelmente cancerígenas” da Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (Iarc, na sigla em inglês), um órgão ligado à Organização Mundial da Saúde (OMS). O anúncio foi feito na noite desta quinta-feira (13), dois meses depois de a agência desaconselhar o uso de todos os tipos de adoçantes não nutritivos como substitutos do açúcar em dietas para controle do peso.
Segundo a Iarc, há evidências científicas que indicam que o aspartame pode aumentar o risco de diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, trombose e certos tipos de câncer em adultos. O produto, que tem um gosto mais doce do que o açúcar, mas sem suas calorias, é usado em muitos alimentos e bebidas classificados como zero açúcar ou dietéticos (diet), como refrigerantes, sucos, chás, iogurtes, gelatinas, pães, barras de cereal e chicletes.
A classificação da Iarc é baseada na quantidade e qualidade de estudos científicos sobre a substância. A intenção é calcular o nível de exposição dos indivíduos e a associação dos compostos ao desenvolvimento de doenças. A agência divide os compostos avaliados em quatro grupos: cancerígenos para humanos, provavelmente cancerígenos, possivelmente cancerígenos e não classificáveis. O aspartame foi incluído no terceiro grupo, que significa que há evidências limitadas de sua carcinogenicidade em humanos e evidências suficientes em animais.
Um dos estudos que relacionou o uso de adoçantes com chances de desenvolver câncer foi publicado na revista PLoS em 2022. A pesquisa acompanhou 102.865 adultos por 7,8 anos e encontrou uma associação entre os produtos artificiais (especialmente aspartame e acessulfame-K) e o aumento das chances de desenvolver a doença. Outro estudo, feito em 2016 e publicado na Indian Journal of Pharmacology, concluiu que mulheres grávidas e lactantes, crianças, diabéticos, pacientes com enxaqueca e epilepsia representam “uma população suscetível aos efeitos adversos dos produtos contendo adoçantes não nutritivos e devem usar esses produtos com o máximo cuidado”.
Paulo Augusto Miranda, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), afirma que as publicações e recomendações da OMS têm como base a avaliação de dados científicos. Ele diz que ainda não há consenso científico sobre os malefícios dos adoçantes não nutritivos à saúde, como câncer. “Aparentemente não temos dados suficientes para estabelecer essa relação de forma intensa”, diz ele.
No Brasil, é a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) quem vai avaliar a recomendação da OMS para orientar ações sobre o acesso aos produtos por meio de regulamentação. Miranda afirma que a diretriz vai servir de base também para os profissionais de saúde orientarem seus pacientes, baseados na análise individualizada. Ele ressalta que as diretrizes precisam ser observadas e inseridas em políticas públicas e ações de saúde.
“É importante entender a argumentação, o impacto individual e o risco populacional para a análise da melhor forma de uso desses produtos”, afirma Miranda.