Educação

Segurança é mais do que criar barreiras à escola, dizem especialistas

Para pesquisadora, por um militar na porta não vai resolver o problema

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Marcelo Camargo/Agência Brasil

Ao chegar à escola, há barreiras e policiais por todos os lados. Botões de emergência estão escondidos para pedidos de socorro. Mas quais são as medidas mais eficazes para prevenir a violência nas escolas? De acordo com especialistas, as soluções principais para lidar com ameaças não são medidas paliativas.

Para Katia Dantas, especialista em proteção infantil e ambientes escolares, a violência nas escolas é um problema multifacetado e complexo. Ela ressalta que a segurança não é o mesmo que proteção e que colocar seguranças na porta não é suficiente. Muitos dos atos violentos são cometidos por crianças contra outras crianças e professores, e são raros os casos em que pessoas de fora da escola são responsáveis pelos ataques.

O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE), Heleno Araújo, concorda que as desigualdades nos ambientes escolares são um fator que contribui para a violência. Ele afirma que muito ainda precisa ser feito para garantir um ambiente seguro e pacífico dentro e fora da escola, como ter escolas em boas condições e profissionais devidamente remunerados e com boas condições de trabalho.

No entanto, é importante lembrar que as escolas no Brasil são muito diferentes umas das outras, com mais de 4 milhões de pessoas, incluindo 2,2 milhões de professores e 1,9 milhão de outros profissionais que trabalham na educação. Heleno Araújo relata que recebeu fotos de uma turma em um município goiano que estavam realizando exercícios de tiro como uma atividade de uma escola cívico-militar, o que, segundo ele, vai contra a perspectiva de formação humana que se deseja para as crianças. Portanto, é importante que a família dê o bom exemplo para as crianças.

Parceria no currículo

Katia Dantas propõe diversas medidas, levando em consideração que a maioria desses atentados tem como base a violência sistemática na vida da pessoa que comete o ataque, como o histórico de bullying, intimidações e abusos familiares. É difícil que alguém com esse perfil não tenha mostrado sinais na escola.

“É crucial que as escolas aprendam a identificar os sinais de abuso. Precisamos mudar essa percepção. Hoje em dia, por exemplo, sabemos que as habilidades socioemocionais são uma parte da base curricular nacional. No entanto, poucos pais sabem como cobrar isso das escolas”, afirma Katia Dantas. A colaboração entre família e escola não deve ficar apenas na teoria, já que as redes sociais e os jogos eletrônicos ocupam um lugar central na vida de crianças e adolescentes.

Também por essa razão, segundo Heleno Araújo, presidente da CNTE, é essencial fortalecer a participação social, a gestão democrática, a participação de pais, mães, responsáveis e grupos organizados da comunidade onde a escola está localizada. “Todos devem se envolver no processo de discussão, no Conselho Escolar, para criar um projeto político-pedagógico para a escola. A participação social e o envolvimento com as políticas da escola, o sentimento de pertencimento, tudo é importante”.

Orientações

De acordo com a especialista, é crucial que os professores e outros funcionários das escolas recebam orientação sobre como lidar com situações de violência, da mesma forma que recebem treinamento para lidar com outras emergências, como incêndios e evacuações. No entanto, o treinamento deve ter uma abordagem pedagógica que não cause medo, pânico ou alarme nas crianças.

Além disso, é importante que esses profissionais estejam preparados para identificar sinais de conflito e mudanças de comportamento que possam indicar que uma criança está sofrendo. A resposta adequada deve ser dada por toda a equipe escolar, e não apenas pelos professores. Segundo a especialista, é crucial que todos os profissionais da escola estejam treinados para proteger as crianças e identificar situações de violência.

Da mesma forma, o presidente da CNTE argumenta que todos os profissionais da educação precisam ser capacitados e receber cursos de formação para desempenharem suas atividades. Isso inclui os porteiros, que devem receber formação em infraestrutura e meio ambiente.

Ele acredita que a formação inicial deve ser voltada para as concepções de educação, para que todos os profissionais possam olhar para os sinais de que algo está errado e identificar as necessidades das crianças. Ele lamenta que nem todas as escolas tenham equipes de psicólogos e outros profissionais de apoio, e argumenta que a segurança começa com a possibilidade de que os profissionais estejam conectados à complexidade dos seres humanos.

Denúncias

Informações sobre ameaças de ataques podem ser comunicadas ao canal Escola Segura, criado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, em parceria com SaferNet Brasil. As informações enviadas ao canal serão mantidas sob sigilo e não há identificação do denunciante.

Acesse o site para fazer uma denúncia.

Em caso de emergência, a orientação é ligar para o 190 ou para a delegacia de polícia mais próxima.

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