A Unesco, órgão da ONU responsável pela educação, ciência e cultura, divulgou um relatório nesta quarta-feira (26) que questiona os benefícios e alerta para os riscos do uso de celulares e outras tecnologias digitais na educação.
Segundo o documento, intitulado “A tecnologia na educação, uma ferramenta a serviço de quem?”, o uso de equipamentos eletrônicos pelos estudantes pode prejudicar a aprendizagem, a concentração, a gestão da sala de aula e a equidade educacional.
Além disso, o relatório aponta que há poucas evidências científicas sobre o impacto positivo da tecnologia na educação e que muitos estudos são financiados pelas próprias empresas que vendem os produtos.
O relatório cita dados do Pisa, programa internacional que avalia o desempenho dos estudantes, que indicam uma associação negativa entre o uso das tecnologias e os resultados acadêmicos. Também menciona que um em cada três professores concorda que o uso das tecnologias em sala de aula distrai os estudantes e dificulta o controle da turma.
A Unesco também identificou que 1 em cada 4 países já proibiu ou restringiu o uso de celulares dentro das salas de aula, como Espanha, Portugal, Finlândia, Holanda, Suíça, México e França.
O relatório ainda destaca que o uso de aparelhos tecnológicos em sala pode aprofundar as desigualdades educacionais, não apenas por questões financeiras ou de acesso à internet e equipamentos, mas também entre estudantes com as mesmas condições socioeconômicas.
“A aprendizagem online se apoia na habilidade do estudante de se regular e pode colocar os estudantes com menor desempenho e os mais novos em risco cada vez maior de abandono escolar”, diz.
A Unesco também alerta que os investimentos em tecnologia na educação podem estar tomando o recurso de ações mais efetivas para a melhoria do ensino, como sala de aula, professores e livros didáticos.
O relatório afirma que os produtos de tecnologia evoluem tão rápido (são trocados, em média, a cada 36 meses) que dificulta a avaliação do impacto no aprendizado. Além disso, destaca que a maior parte dos estudos são conduzidos pelas próprias empresas de tecnologia, que podem ter interesses comerciais envolvidos.
“Boa parte das evidências são produzidas pelos que estão tentando vendê-las. A Pearson financiou seus próprios estudos e contestou uma análise independente que demonstrava que seus produtos não tinham impacto algum”, destaca o relatório.