A maioria dos fracassos ou da infelicidade no casamento se deve a mitos, que vão passando de geração em geração, através dos contos de fadas, das músicas, da mídia.
Por causa desses mitos, os relacionamentos podem se tornar fontes de insatisfação, ódio, raiva, stress. A minha experiência clínica, na qual atendi centenas de casais, mostra que esse assunto merece atenção.
1° MITO – MITO DO AMOR ROMÂNTICO
A maioria dos problemas no casamento surge porque os cônjuges não se sentem seres inteiros, têm uma autoimagem fragmentada e acreditam que dependerão de uma outra pessoa para completá-los e fazê-los felizes. Essa crença está embasada no Mito do Amor Romântico. Trata-se de uma narrativa bastante antiga, baseada na mitologia grega. De acordo com o mito, éramos andróginos, tínhamos, no mesmo corpo, ambos os sexos. Os homens possuíam quatro mãos e quatro pernas, dois órgãos sexuais. Eram ágeis, corajosos, externavam grande poder e ousaram desafiar os deuses. Diante disso, Zeus decidiu castigá-los, dividindo-os em duas metades. Assim os condenou a viver eternamente em busca da sua outra metade.
Até hoje esse mito vem influenciando nossos relacionamentos amorosos. O ideal para um casamento feliz seria que o processo do casamento ocorresse primeiro dentro de nós mesmos, nos tornando seres inteiros. Só após esse processo, poderíamos nos casar com um outro ser inteiro, compartilhando a nossa vida de forma mais saudável e feliz. O Mito do Amor Romântico precisa ser quebrado. Não podemos acreditar que o outro seja a única fonte de felicidade. Vários fatores são importantes, como, por exemplo, ampliar a consciência pelo autoconhecimento, aprender mais sobre nosso funcionamento, estar mais atento ao momento presente, procurar sentir prazer nas pequenas coisas do cotidiano e quebrar paradigmas que nos impedem de viver de forma autônoma emocionalmente.
2° MITO – O CASAL TEM QUE FAZER TUDO JUNTO
Conhecer alguns mitos conjugais limitantes e quebrá-los é fator essencial para vivermos uma vida amorosa mais prazerosa. O ideal num casamento é este ocorrer entre dois seres inteiros, no qual a intersecção entre esses inteiros é espaço do casamento. Nesse espaço comum, o casal constrói patrimônio, cria os filhos, faz escolhas e estabelece metas comuns. Mas cada um dos cônjuges precisa de um espaço seu, individual, para viver experiências nem sempre compartilhadas com a pessoa amada, tais como trabalho, esporte, amigos, hobby, não significando que eventualmente esses momentos não possam ser vividos a dois. O que nos impede de viver assim? Um mito: O casal tem que fazer tudo junto. Isso empobrece a relação, pois ambos deixam de viver suas individualidades.
O que nos atrai é justamente a singularidade e, se somos influenciados por esse mito, deixamos de ser nós mesmos para sermos um pedaço do outro. Um exemplo: deixamos de visitar um parente ou amigo porque o outro não poderá ir, temendo desagradá-lo ou dar motivo para que ele faça o mesmo. Então, aprisionamo-nos nessa relação, perdendo a nossa identidade e o resultado é insatisfação, raiva, medo, culpa, apego, posse, cobrança.
3° MITO – ACREDITAR QUE A CHAVE DA FELICIDADE É O CASAMENTO
Outro mito que limita nossas relações amorosas: acreditar que a chave da felicidade é o casamento. Aprendemos com as histórias infantis, os romances, filmes, que final feliz é o casamento: “E eles vive- ram felizes para sempre” Tudo terminou bem. Mas sabemos que os problemas começam aí. São duas pessoas com valores e atitudes diferentes, e o pior é que cada um quer impor seus valores e suas ati- tudes, vistos como melhores. É natural todos querermos ganhar; aí vêm os conflitos e, com eles, a frustração.
Cada cônjuge pensa que estar com a pessoa amada é suficiente para estar completo, feliz. Aos poucos, descobre-se que não é bem assim e vem a sensação de que se foi enganado, que o outro é uma farsa. O casamento é como construir uma casa. Se o alicerce não é sólido, o indivíduo passa muito tempo levantando paredes, colocando telhado, portas e um vento mais forte destrói tudo.
Por outro lado, o difícil em ser solteiro é que a sociedade foi preparada para casais. Quando alguém, até por escolha, não se casa, é cobrado; e várias pessoas acabam se casando para corresponder a ex- pectativas. As mulheres sofrem mais com essa situação do que os homens, porque muitas vezes pensam que não se casaram porque ninguém as desejou. Então, deve haver algo de errado com elas. Não per- cebem que a maioria das pessoas casadas são infelizes no casamento. Enquanto não atingimos a dimensão de nos sentirmos “solteiros”, não devemos pensar em casamento, sob pena de vivermos uma união infeliz ou chegarmos a uma separação.
4° MITO – O CÔNJUGE PODE DESCARREGAR TUDO NO OUTRO
Outra crença devastadora para o casamento: o cônjuge pode descarregar tudo no outro. Infelizmente, acredita-se que o lar é o lugar onde podemos descarregar nossos sentimentos mais ferozes sem a preocupação de ferir o outro, pois, em outros ambientes, como o trabalho, com os amigos ou estranhos, prefere-se mostrar as melhores condutas, o melhor tato e a melhor diplomacia. O lar se torna o local para se liberar as emoções, o paraíso da espontaneidade. Os ataques geram contra-ataques.
Os que apelam para expressões agressivas, geralmente recebem o mesmo que ofereceram. A retaliação mais comum é o comportamento passivo-agressivo, no qual o agredido evita a guerra aberta e torna-se subversivo e sabotador.
Não estou querendo defender um relacionamento familiar inibido ou exageradamente cortês. É importante, numa relação familiar, se compartilhar sentimentos fundamentais, como a franqueza e a informalidade, pois são elementos importantes numa boa relação. Mas não podemos esquecer que a cortesia, o bom gosto e o decoro são essenciais em qualquer tipo de relacionamento principalmente no familiar, no qual seus membros estarão liga dos por toda a vida. É no lar que não se deve atacar a dignidade do outro, sob pena de gerar rancor, ressentimentos, raiva.
5° MITO – O CASAMENTO DEVE SER UMA SOCIEDADE 50% – 50%
Esse é mais um mito que tem levado casais a desgastes e separações. A ideia de direitos iguais, oportunidades iguais, pagamentos iguais tornou-se uma bandeira para muitos casais, que acreditam que, se as coisas não forem divididas meio a meio, pode caracterizar-se uma situação de exploração.
Na atualidade, felizmente, estamos vivenciando uma maior flexibilização dos papéis de homem e mulher, deixando para trás estereótipos rígidos das funções masculinas e femininas. O homem urbano já é capaz de ficar na cozinha preparando o jantar enquanto sua esposa descansa na sala, lendo jornal e verificando os índices da Bolsa de Valores. Mas ainda existem muitos casais que levam esse mito ao pé da letra, achando que a participação conjunta é justa e desejável, não percebendo que, numa vida a dois, dependendo das circunstâncias, uma combinação 60% – 40%, 80% – 20%, 90% – 10% ou qualquer outra pode ser mais adequada do que 50% – 50%.
Alguns insistem numa única forma de ver o mundo, achando ser a sua melhor. Os casais fazem controle através de anotações. “Eu coloquei o lixo para fora vezes essa semana e você apenas 2. Eu levei as crianças para a escola 4 vezes e você apenas 1”. “Eu lhe fiz 5 elogios esse mês e você nenhum”, “Não lhe mando mais cartões porque você também não me tem mandado”. “Não tenho lhe telefonado mais porque você também não telefona”.
6° MITO – UMA RELAÇÃO EXTRACONJUGAL DESTRÓI O RELACIONAMENTO
Um outro mito muito comum: uma relação extraconjugal destrói o casamento.
Muita gente acredita que ter uma aventura significa que algo está errado com o casal. Mentira! Podemos afirmar que, das pessoas que costumam se envolver nessas aventuras, apenas uma pequena parcela o faz devido a conflitos na relação. A maioria age assim por causa de conflitos internos. Muitos indivíduos buscam uma aventura por estarem inseguros com relação aos seus atrativos físicos ou ao seu de sempenho sexual e, constantemente, estão procurando autoafirmação. Outros são tão sexualmente ativos que poucos conseguem acompanhar seu ritmo. Há ainda aqueles que estão sempre insatisfeitos e isso também inclui os relacionamentos. Em muitos casos, agem dessa forma apenas por curiosidade, procurando emoções fortes ou ainda a superação do tédio.
É importante ressaltar que existem razões saudáveis e doentias na busca ou não dessas aventuras. Pode ocorrer num casamento de 30 anos, no qual o homem ou a mulher jamais tenham desejado ou ido atrás de aventura e que ambos sejam perfeita mente normais.
Já, em outros momentos, podem ficar evidenciados graves problemas biológicos ou psicológicos. Existem pessoas que relatam que, após uma aventura, o casamento melhorou consideravelmente. Para outras, as relações extraconjugais são inteiramente desaconselháveis, porque vão resultar em culpa, vergonha e sofrimento em virtude de temperamento, religião ou condicionamentos sociais.
Por: Dra Francisca Leão
IMPI–Instituto de Medicina e Psicologia Integradas
RT: Dalmo Garcia Leão CRM 4453
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