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Dia da Consciência Negra: dados e fatos de um Brasil ainda racista

A data, neste ano, acontece um dia após um homem negro ser brutalmente assassinado no Carrefour

Comemoração ao Dia da Consciência Negra no Brasil
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

O feriado do Dia da Consciência Negra é comemorado em 20 de novembro. A data é o mesmo dia em que Zumbi dos Palmares morreu. Ele foi o líder do Quilombo dos Palmares e ficou conhecido por todo o país ao lutar contra a escravidão no Brasil.

O Dia Nacional da Consciência Negra foi criado em 2003 e se tornou feriado em mais de mil cidades em todo o país em 2011. A celebração do Dia da Consciência Negra é cercada de polêmicas no Brasil. Há quem seja a favor e quem seja contra o feriado.

Contudo, dados recentes do país apontam que a população negra vem sofrendo preconceito racial e violência policial, além de outros danos por todo o país. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública de 2020 mostram que os negros são vítimas em 74,4% dos casos de violência letal no país. Em números, isso significa que a cada 4 violências letais no país, 3 são contra negros.

Os dados ficam ainda mais preocupantes ao somar o fato de que a cada 23 minutos, um jovem negro morre no Brasil. Os dados são do Mapa da Violência. De acordo com o estudo, cerca de 4.300 jovens negros morrem por ano no país devido a cor da pele. Ainda segundo o Mapa da Violência, um jovem negro tem 12 vezes mais chances que um branco de ser assassinado.

Foto: Mídia Ninja/Flickr

Dia da Consciência Negra no Brasil

O feriado começou inicialmente com a inclusão do estudo da história e cultura afro-brasileira no currículo escolar das instituições de ensino, por meio da Lei 10.639/2003. Ela alterou as diretrizes e bases da educação nacional, ao incluir a temática para ser abordada nas escolas.

Além disso, ficou previsto que as instituições escolares também comemorassem o Dia Nacional da Consciência Negra durante as atividades do ano, mais especificamente em 20 de novembro.

“Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’”, diz trecho da lei.

Cerca de oito anos depois no governo Dilma, a Lei nº 12.519/2011 que Institui o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, foi criada. Entretanto, a lei não previa que a data viesse a ser um feriado.

Apesar de ser conhecido em âmbito nacional, o feriado do Dia da Consciência Negra é estadual, comemorado no Rio de Janeiro, Mato Grosso, Alagoas, Amazonas, Amapá e Rio Grande do Sul. Em mais de 1.000 cidades no Brasil é feriado municipal.

A professora de história Maria Nonato explica que a adição da temática “História e Cultura Afro-Brasileira” possibilitou um ensino mais profundo sobre a escravidão. Ela relembra que já presenciou relatos tocantes enquanto lecionava, lembrando-se sempre de sua própria história e vivência.

“Eu leciono história há mais de 20 anos e sempre me surpreendo com os relatos de meus alunos quando falamos sobre escravidão e racismo. É impressionante saber que, mesmo tão jovens, eles passam por episódios tão tristes de racismo. O Dia da Consciência Negra é importante, diria até vital, para nossos alunos. Por ser negra, sofri e ainda sofro racismo, mas tento sempre transformar esse preconceito em ensinamento aos meus alunos”, desabafa a Maria Nonato.

Dados da violência contra negros

Em um país tão miscigenado, a violência contra negros continua em alta ainda em 2020. Casos de racismo têm aumentado com o passar dos anos e a previsão é de que essas ocorrências continuem aumentando.

Além de violências letais, as ocorrências de latrocínio e vítimas de intervenções policiais assustam pela concentração de negros como alvos. Cerca de 55,8% das vítimas de latrocínio são negros. Ao passo que 79,1 dos alvos de intervenções policiais são homens negros. Até entre os policiais assassinados a maioria também é negra, representando um total de 65,1%.

Em 2019, 10,3% das vítimas de assassinatos no país eram crianças e adolescentes, dentre eles, 75% eram negros. Eles também são maioria na fila de adoção, ao passo que os brancos são maioria na preferência da população pronta para adotar.

O sistema prisional brasileiro abriga hoje 755.274 pessoas privadas de liberdade. Contudo, a capacidade dos presídios é bem menor do que o número de pessoas atualmente presas. O local que serviria para ressocialização, previsto em lei, acaba deixando essas pessoas, em muitos casos, piores do que entraram. Em 2005, os negros representavam 58,4% da população encarcerada do Brasil. Essa porcentagem saltou para 66,7% em 2019.

Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

As mulheres negras também são recorde nos 1.326 casos de feminicídio em 2019. Elas representaram 66,6% dessas vítimas. Todos os dados são do anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, publicado em outubro deste ano.

“Eu sou vítima do racismo todos os dias”

A advogada trabalhista, que preferiu não se identificar, mora em Planaltina, mas trabalha em um escritório de advocacia na Asa Sul. Negra, ela afirma que desde pequena aprende a lidar com o preconceito, mesmo pensando em desistir muitas vezes.

Ela relata que durante o ensino médio, o racismo vinha em forma de brincadeiras de mau gosto e apelidos pejorativos. Entretanto, na faculdade, o tratamento recebido já era mais velado. Olhares com ar de superioridade e a presunção dos outros de que ela era sempre menos inteligente que os demais a fez enxergar o mundo de forma mais triste.

Mesmo em estágios e até no atual trabalho, ela conta que todo dia é uma luta. A necessidade de provar que ser negra não a torna inferior é algo que ainda ronda os pensamentos todos os dias.

“Não importa aonde eu vá, o sentimento e a realidade é que as pessoas brancas me olham como se eu não merecesse estar no meu cargo. Eu sou vítima do racismo todos os dias, e tem momentos que simplesmente não tenho forças para suportar. O Dia da Consciência Negra está aí para nos fazer refletir. Mas eu me pergunto ‘será que as pessoas realmente refletem sobre a luta negra?’”, relata a advogada trabalhista.

Mais um negro nas estatísticas

Na noite dessa quinta-feira (19), um homem negro foi espancado e morto por dois homens brancos no supermercado Carrefour de Porto Alegre. A vítima, João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos não resistiu aos ferimentos e, mesmo após primeiros socorros do SAMU, faleceu no local.

O crime aconteceu nas vésperas do Dia Nacional da Consciência Negra. Foram três envolvidos. Dois brancos e um negro. O negro morreu por não resistir ao espancamento. Um dos agressores é PM e o outro segurança.

Conversamos com o advogado e presidente da Comissão Nacional da Verdade da Escravidão Negra, Humberto Adami. Para ele, os recentes episódios escancaram ainda mais a desigualdade e o preconceito racial no Brasil.

“Nós vemos hoje, no dia que se comemora o Dia da Consciência Negra, o recente assassinato frio, cruel e covarde do George Floyd brasileiro, que é o João Freitas. O assassinato foi cometido por dois profissionais da segurança, um deles é PM. Isso apenas comprova a falta de preparação das forças colocadas para trabalhar em segurança pública e privada no Brasil, é patente. Isso tudo é um resquício da escravidão negra no Brasil”, explica o advogado.

Humberto Adami | Foto: Reprodução/Instagram

“No Brasil não existe racismo”

A investigação da Polícia sobre o assassinato de João Freitas está em andamento. Para isso, eles vão interrogar testemunhas e analisar as filmagens das câmeras de segurança do Carrefour para identificar o motivo do crime. Até o momento, o crime está sendo tratado como homicídio qualificado.

Nesta sexta-feira (20), no Dia da Consciência Negra, o vice-presidente Hamilton Mourão afirmou que o episódio da morte do homem negro no Carrefour foi “lamentável”. Contudo, logo em seguida, ele afirmou que não existe racismo no Brasil.

“Pra mim, no Brasil não existe racismo. Isso é uma coisa que querem importar aqui pro Brasil. Isso não existe aqui. O que você pode pegar e dizer é o seguinte ‘existe desigualdade’. Nós temos uma desigualdade aqui brutal, fruto de uma série de problemas e grande parte das pessoas, vamos colocar assim, de nível mais pobre, que tem menos acesso às necessidades da sociedade moderna são ‘gente de cor’”, afirmou Mourão a jornalistas.

A declaração do vice-presidente foi vista com reprovação pela população que luta pela defesa da luta negra no país. Ele rapidamente ficou entre os assuntos mais comentados no Twitter após afirmar que no Brasil não existe racismo.

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Turistas brasileiras são assaltadas e sofrem tentativa de estupro em apartamento alugado na França

Sete homens invadiram imóvel alugado via Airbnb em Paris; polícia francesa enfrenta críticas pela abordagem às vítimas

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Imagens - Redes Sociais

Uma maquiadora brasileira e suas amigas viveram momentos de terror durante uma viagem a Paris, na França. O grupo foi alvo de um assalto e tentativa de estupro, quando sete homens armados invadiram o apartamento alugado pelo Airbnb. Além de roubar pertences e dinheiro, os suspeitos agrediram as vítimas e tentaram arrancar suas roupas.

A seguir, veja o que se sabe e o que ainda precisa ser esclarecido sobre o caso:

O que aconteceu?

Marcela Vinhal de Carvalho, de 25 anos, natural de Contagem (MG), relatou que o ataque ocorreu na noite de 16 de novembro, último dia da viagem. A maquiadora estava no apartamento com uma amiga quando os homens invadiram o local, gritando e agredindo-as com tapas, murros e cotoveladas.

A terceira integrante do grupo, que estava fora, tentou retornar ao imóvel e interfonou diversas vezes, assustando os criminosos, que fugiram às pressas.

Como as vítimas conseguiram escapar?

A chegada inesperada da terceira amiga interrompeu a ação dos criminosos, que deixaram o apartamento carregando celulares e bolsas. Após a fuga, as vítimas buscaram ajuda em uma estação de metrô próxima, onde uma mulher acionou a polícia.

O que foi levado no assalto?

Foram roubados quatro celulares, 900 euros (cerca de R$ 6 mil), cartões de crédito e itens pessoais. Um dos celulares era essencial para o trabalho de Marcela como maquiadora e influenciadora digital.

Qual foi a resposta da polícia francesa?

As jovens denunciaram o assalto e passaram a madrugada na delegacia, mas enfrentaram uma abordagem controversa. Segundo Marcela, os policiais insinuaram que elas eram prostitutas após encontrarem medicamentos ginecológicos e preservativos em suas malas.

“Fomos interrogadas como suspeitas. Eles comentaram sobre as cores de nossas roupas íntimas e disseram coisas que nos fizeram sentir humilhadas”, desabafou Marcela.

Apesar das dificuldades, os agentes coletaram digitais no local e convocaram as vítimas para exames de corpo de delito.

O que falta esclarecer?

  • A identidade dos sete homens envolvidos no ataque.
  • Se houve falhas na segurança do apartamento alugado via Airbnb.
  • Medidas de assistência às vítimas por parte do consulado brasileiro.

O que foi feito pelo proprietário do imóvel?

Até o momento, não há informações sobre a posição do proprietário do apartamento alugado.

Qual a ação do consulado brasileiro?

O caso ainda aguarda uma resposta oficial do consulado brasileiro sobre o apoio às vítimas e possíveis medidas legais contra os responsáveis.

O episódio expõe preocupações sobre a segurança de turistas em acomodações temporárias e a conduta de autoridades locais em situações de vulnerabilidade.

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Homem suspeito de beber sangue de animais e fazer ameaças é investigado em Sergipe

Denúncias apontam maus-tratos, consumo de sangue animal e até ameaças contra pessoas no Povoado Terra Dura, em Capela

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Imagem - Reprodução

Moradores do Povoado Terra Dura, em Capela (SE), estão vivendo momentos de tensão após denúncias de que um homem estaria atacando animais, consumindo seu sangue e fazendo ameaças contra pessoas. O caso veio à tona após a circulação de um áudio nas redes sociais, no qual uma mulher alerta para o comportamento do suspeito.

“Fechem suas portas. Não deixem as crianças saírem. Esse homem já feriu dois porcos e uma bezerra, e agora quer beber sangue de gente”, diz a gravação que gerou grande repercussão no estado.

Investigações em andamento
A Polícia Civil de Sergipe está investigando relatos de maus-tratos a animais no local, incluindo um episódio recente, em 28 de novembro, no qual dois porcos foram esfaqueados. Apesar das denúncias nas redes sociais de que o homem teria consumido o sangue das vítimas, o boletim de ocorrência registrado não confirma esse detalhe. A polícia afirmou que, caso essa prática seja comprovada, será devidamente apurada.

Além da Polícia Civil, a Superintendência de Proteção Animal de Sergipe (SupAnimal) acompanha o caso e classificou as denúncias como extremamente graves.

Relatos de moradores
De acordo com testemunhas, o comportamento violento do homem não é recente. Uma moradora, que preferiu não ser identificada, afirmou que já foram encontrados cachorros esfaqueados e emas esquartejadas na região, com suspeitas de que ele vendia a carne.

“O último caso foi no Dia das Crianças, quando um bezerro apareceu morto com cerca de 30 facadas. Dizem que ele bebeu todo o sangue e agora quer provar sangue humano”, relatou.

Outro incidente ocorreu no final de novembro, quando porcos foram encontrados gravemente feridos. “Ele estava sujo de sangue, com uma faca na cintura, e dizia que tinha bebido sangue de porco, mas não gostou”, contou a moradora.

Além disso, há relatos de tentativas de invasão a estabelecimentos comerciais e até de incêndio criminoso. Apesar de diversos boletins de ocorrência e provas, a comunidade lamenta a falta de medidas enérgicas.

“Estamos vivendo com medo, sem saber o que pode acontecer a qualquer momento. Parece que estamos abandonados”, desabafou a denunciante.

Nota de atenção:
A polícia reforça que a população deve denunciar qualquer movimentação suspeita e evitar confrontos diretos. O caso segue sob apuração.

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Homem morre ao se engasgar com enroladinho de salsicha em padaria de Goiânia

Vítima tentou engolir o salgado inteiro; suspeita de infarto também será investigada pela perícia

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Um homem de 37 anos morreu nesta terça-feira (3/12) após se engasgar com um enroladinho de salsicha em uma padaria localizada na Avenida Circular, no Setor Pedro Ludovico, em Goiânia (GO). Segundo o proprietário do estabelecimento, Thiago Rocha de Sousa, a vítima aparentava estar embriagada e recebeu o salgado de um cliente que se solidarizou com seu pedido por alimento.

De acordo com o relato, o homem colocou o enroladinho inteiro na boca enquanto aguardava atendimento e se engasgou logo em seguida. Funcionários da padaria tentaram realizar manobras cardiorrespiratórias, mas não conseguiram reanimá-lo.

O Corpo de Bombeiros Militar (CBM) foi acionado, mas encontrou o homem inconsciente há cerca de 10 minutos. Apesar dos esforços dos brigadistas, que tentaram reanimá-lo por aproximadamente 30 minutos, ele não resistiu e faleceu no local.

A identidade da vítima não foi revelada, e a corporação informou que, embora o caso tenha sido registrado como “engasgamento”, existe a possibilidade de que a causa da morte tenha sido um infarto agudo do miocárdio, hipótese que será confirmada pela perícia.

Casos semelhantes
Situações como essa são recorrentes no Brasil. No último domingo (1º/12), um homem de 43 anos morreu após se engasgar com um pedaço de pão em Arcoverde, no Sertão de Pernambuco. A Polícia Civil investiga o caso, mas confirmou que a vítima faleceu ao dar entrada no hospital.

Nota de alerta:
Especialistas reforçam a importância de mastigar bem os alimentos e de agir rapidamente em casos de engasgamento. Procedimentos como a manobra de Heimlich podem salvar vidas em situações de emergência.

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