Era 1h da manhã do dia 1º de junho de 2022. A pediatra Maria Paula Almeida estava trabalhando há quase 12 horas no Hospital Regional de Santa Maria (HRSM). Naquele plantão, havia muitos casos relacionados a questões respiratórias. Enquanto realizava a internação de uma criança, a médica foi abordada pela mãe de outra paciente. A filha pequena estava com febre. “Expliquei o que poderia ser feito no caso da menina, mas que eu precisaria concluir a internação de outra criança. Ela se exaltou, começou a gritar comigo e jogou o computador em cima de mim. Como tentei defender meu rosto, meu braço foi fraturado. Me desequilibrei, bati na pia e também machuquei a costela”, relembra a médica.
Aos 31 anos, a pediatra garante que o mais difícil não foi passar pela dor física. “É uma sensação de impotência, de medo que isso algum dia se repita. Hoje me sinto vulnerável enquanto exerço meu trabalho”, lamenta. Ela conta que, ao mesmo em que o médico é um profissional admirado, é constantemente atacado por pacientes e familiares quando ocorre qualquer problema em uma unidade de saúde. “Durante os plantões, eu e meus colegas ouvimos constantemente que os médicos são vagabundos e não gostam de trabalhar”, lamenta Maria Paula.
Ela reconhece que pacientes e familiares estão fragilizados quando procuram uma unidade de saúde. “Mas as pessoas precisam pensar que, por trás do médico e de cada pessoa da equipe, existe um ser humano, uma vida!”, afirma.
O que ocorreu com a pediatra, infelizmente, não é um caso isolado. A falta de respeito com os colaboradores da saúde que estão na linha de frente do atendimento é recorrente. Diante desta triste realidade, o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (IgesDF) – que faz a gestão do Hospital de Base (HBDF), do Hospital Regional de Santa Maria (HRSM) e das 13 unidades de pronto atendimento (UPAs) do DF – lança a campanha Somos Todos Iguais. O objetivo é que a sociedade consiga enxergar o ser humano além do profissional, o indivíduo que se dedica diuturnamente a curar pessoas e salvar vidas. “E que também tem seus sentimentos, suas vulnerabilidades e sua família”, lembra Maria Paula.
Durante a campanha, o IgesDF apresentará em seus canais – Facebook e Instagram – o perfil de alguns profissionais, e contará um pouco de suas histórias e o que realizam, além do horário de expediente. A campanha Somos todos iguais também tem como objetivo atender à demanda da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos, Cidadania, Ética e Decoro Parlamentar (CDDH), que acionou o instituto por meio do deputado distrital Fábio Félix, que sugeriu a realização de ações de enfrentamento às violências no trabalho e campanhas educativas junto aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), a partir de algumas agressões contra profissionais da saúde, veiculadas na imprensa.
A gerente da UPA do Núcleo Bandeirante, Janaína Almeida, dedica o tempo livre às pessoas que ama, aos amigos e às atividades pessoais. “Sou mãe, sou muito brincalhona, gosto de passar tempo de qualidade com as minhas filhas e minha paixão é dançar”, detalha. Quando chega ao trabalho, o desafio, segundo ela, é manter o autocontrole e a compreensão diante de situações repentinas. “Buscar ficar centrada, aprender a ter autocontrole e pensar que estamos ali porque o paciente precisa é fundamental”, ressalta. “Temos a obrigação de prestar o melhor serviço aos pacientes para que o serviço como um todo funcione da melhor forma possível”, destaca.
Projeto Acolher
Além de situações de violência física e verbal, existe a pressão a que os profissionais da saúde estão constantemente submetidos. Todas essas situações pedem uma atenção especial. Neste contexto, foi idealizado, em 2021, o projeto Acolher: Cuidando da saúde do colaborador.
“O caminho é cuidar da saúde e da mente de nossos colaboradores. Se eles em saúde podem realizar suas funções de maneira otimizada, cuidando da saúde dos usuários”, destaca a diretora-presidente do IgesDF, Mariela Souza de Jesus. “Estamos cuidando de quem cuida e o intuito é ampliar ainda mais nosso projeto”, afirma.
Entre as ações do Acolher, estão atividades de promoção, prevenção e orientação nas áreas de Psicologia, Psiquiatria e Nutrição, além de acupuntura, Reiki e ginástica laboral. Apenas em 2022, no âmbito do projeto, foram realizados 899 atendimentos em Psiquiatria, 2.071 em Psicologia e 289 em Nutrição.
A médica psiquiatra do Hospital de Base e supervisora técnica do projeto Acolher, Renata Rainha, esclarece que os casos em que os profissionais são tratados de forma agressiva ou violenta acabam desencadeando um ciclo de estresse. “Ter um cuidado com a saúde mental contribui para um equilíbrio maior dos colaboradores que estão na linha de frente do atendimento, o que se reflete num melhor atendimento ao paciente”, avalia.
→ Como buscar o Projeto Acolher?
Os agendamentos podem ser feitos:
• Por iniciativa própria do colaborador;
• Por encaminhamento do médico do trabalho, exclusivamente para início de acompanhamento psicológico e/ou psiquiátrico pela equipe do projeto Acolher, sendo vedado o encaminhamento para realização de perícia ou elaboração de relatório médico;
• Por encaminhamento da chefia imediata.
Os atendimentos individuais ou em grupo são feitos mediante agendamento prévio, por e-mail e telefone fixo. Os gestores também podem solicitar a realização de bate-papos e de terapia em grupo junto às equipes.
Hospital de Base: 3550-8855
Hospital Regional de Santa Maria: 3550-8900 (ramal: 9291)
Por: Agência Brasília