Francisco Palhares, de 72 anos, recebeu um presente de vida de sua filha, Cristiana Ferraz Palhares, de 43 anos. Ela doou um de seus rins para o pai, que sofria de doença renal policística e precisava fazer hemodiálise há quase dois anos. A cirurgia de transplante foi realizada no último sábado (26/8), no Hospital Anchieta, em Taguatinga, e foi um sucesso.
A doença renal policística é uma condição genética que afeta os rins, formando cistos que prejudicam sua função de filtrar o sangue. Francisco descobriu que tinha a doença quando tinha 40 anos e tentou se cuidar para evitar complicações. Porém, em 2020, ele sofreu um acidente de bicicleta e teve que iniciar o tratamento de hemodiálise, que consiste em usar uma máquina para limpar o sangue.
O aposentado entrou na fila do transplante de rim, mas a espera era longa. No Brasil, há mais de 37 mil pessoas aguardando por um rim, e o transplante é a única solução definitiva para a doença renal crônica. Francisco chegou a ser candidato a receber alguns rins compatíveis, mas nunca foi o primeiro da lista.
Foi então que Cristiana decidiu se oferecer para doar um de seus rins para o pai. Ela é educadora e tem três filhos. Ela conta que não foi uma decisão fácil, mas que foi motivada pelo amor e pela vontade de ver o pai recuperado. “No começo, não avisei que queria doar o meu rim. Marquei com a médica para conhecer como era o procedimento antes de contar, eu queria ajudar ele”, diz.
Ela também relata que precisou convencer o pai a aceitar a doação, pois ele estava preocupado com a saúde dela. “Meu pai estava muito preocupado, não queria trazer prejuízos para a minha saúde, mas estou muito bem. Eu passaria por todo o medo da cirurgia só pela alegria de vê-lo caminhando, recuperado”, afirma.
Cristiana passou por uma série de exames para comprovar que era compatível e saudável para doar o rim. Ela também teve que assinar um termo na Justiça para garantir que não houve nenhum tipo de pagamento ou coação para a doação. Ela elogia o processo e diz que foi “muito respeitoso, de carinho e aceitação”.
A cirurgia foi realizada pela equipe da nefrologista Helen Siqueira, chefe da equipe de transplante do Hospital Anchieta. Ela explica que o transplante era a melhor alternativa para Francisco e que foi lindo poder realizá-lo. “O seu Francisco teve uma falência renal avançada. Apesar de a doença ser uma condição genética, a Cristiana, ao contrário dos irmãos, não foi afetada e quis doar para ajudar o pai”, diz.
Francisco recebeu alta nessa quarta (30/8) e está se recuperando bem. Ele agradece à filha pelo gesto de amor e diz que se sente renascido. “Ela me salvou a vida. Eu não tenho palavras para expressar o que sinto por ela. É uma filha maravilhosa”, declara.
A doação de órgãos é essencial para diminuir a fila de transplantes no país. Segundo dados do Ministério da Saúde, em 2020 foram realizados 5.724 transplantes de rim no Brasil, sendo 1.426 com doador vivo e 4.298 com doador falecido. Para ser um doador, basta comunicar sua vontade à sua família.