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Educação

Homeschooling no DF: conheça famílias adeptas da prática

Homeschooling no DF segue para aprovação do governador
Foto: arquivo pessoal

O homeschooling, ou educação domiciliar, foi aprovado no DF em segundo turno na Câmara Legislativa (CLDF). A proposta recebeu 12 votos favoráveis e cinco contrários. O próximo passo agora é a análise do governador Ibaneis Rocha, que pode vetar ou sancionar a versão aprovada pelos distritais.

De acordo com os parlamentares defensores do projeto, regulamentar o ensino domiciliar na capital é oferecer mais segurança jurídica e maior qualidade de ensino para as famílias adeptas da prática. Os mesmos ainda reforçam que trata-se de mais uma opção para as famílias e não uma medida de desvalorização das redes de ensino.

O que é e como funciona

O homeschooling, ou educação domiciliar, se baseia no ensino promovido pela família no próprio lar numa abordagem pedagógica específica de aprendizagem que se distingue da educação padrão de massa dada nas escolas. 

A prática pode ser feita pelos próprios pais com auxílio de um material didático específico, ou por meio de professores particulares. Vale lembrar que, mesmo optando por professor particular, a presença dos pais é imprescindível no processo. 

Embora no Brasil a educação familiar seja um fenômeno consolidado e crescente, não existe um estudo científico de grande proporção que demonstre os resultados acadêmicos da modalidade em razão de alguns fatores. Um deles é o receio de muitas famílias de sofrerem denúncias e processos.

No entanto, de acordo com a estimativa da Associação Nacional de Educação Familiar (ANED), existem 7,5 mil famílias praticantes de homeschooling no Brasil. São cerca de 15000 estudantes entre 4 e 17 anos. Em 2018, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que a prática é constitucional, mas precisa ainda ser regulamentado pelo Congresso Nacional.

*Gráfico do crescimento da educação domiciliar no Brasil (pesquisa realizada em 2016 pela ANED)

Gráfico: reprodução/ANED

O que diz a lei?

Em relação à educação, a Constituição Federal dispõe no art. 205 que “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.” 

Em sequência, no art. 206, a Constituição estabelece alguns princípios a serem seguidos, tanto na educação familiar quanto nas instituições de educação. Um deles, diz respeito ao pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino.

Observa-se, portanto, que a família, por meio dos pais como detentores do poder familiar, têm a liberdade e autonomia de escolher o modelo de educação de seus filhos de maneira distinta da educação tradicional de massa realizada no ambiente escolar.

Apesar da prática estar em contexto minoritário no Brasil, a educação domiciliar é realidade em vários outros países, inclusive naqueles que possuem os melhores sistemas de educação do mundo, como Finlândia e Reino Unido.

Mas por que o homeschooling? 

Apesar da prática se encontrar em contexto minoritário no Brasil, a educação domiciliar é realidade em vários outros países, inclusive naqueles que possuem os melhores sistemas de educação do mundo, como Finlândia e Reino Unido.

A ex-professora Valéria Lehmann é mãe de 6 e conta que ela e o marido optaram pela educação familiar por vários motivos. Ela parou de trabalhar a partir do quarto filho por perceber que poderia oferecer muito mais às crianças estando em casa. Foi quando decidiu tirá-las da escola e iniciar o homeschooling.

Eu comecei a pesquisar sobre a educação familiar e alfabetização e a desenvolver atividades com as crianças. Eu percebi que, o que a escola fazia em um ano, eu fazia em muito menos tempo”, conta Valéria.

Valéria explica que o fato de poder dar atenção individual a cada filho, conhecer o temperamento e entender as dificuldades e facilidades ajuda bastante no processo, otimizando o tempo.

Foto: arquivo pessoal. Acima, os três filhos mais velhos de Valéria.

Juliana e Marcelo Cerri, pais de 3 crianças, também optaram pela prática do homeschooling pelo fato de ser um ensino personalizado, uma vez que os pais conhecem os interesses, dificuldades e facilidades dos filhos. Além disso, é um ensino mais rápido e menos tendencioso, onde elas podem estudar no seu próprio ritmo.

“Uma matéria que um pai demora 30 minutos para explicar, um professor de escola demoraria várias horas, pois é impossível controlar uma turma de 40 crianças”, ressalta Juliana.

O homeschooling na prática

Ter um cantinho dos estudos para quem pratica o homeschooling é essencial. Valéria conta que separou um cômodo exclusivo na sua casa para as crianças estudarem. A “mini sala de aula” dispõem de muitos recursos, como biblioteca, quadro-negro, mapas, mesas e carteiras. Para seus filhos mais velhos, de 8, 7 e 5 anos, ela enfatiza o ensino das matérias de Português e Matemática, além do incentivo à leitura de clássicos e históricos. “Os meninos lêem bastante, e nós estamos sempre buscando comprar novos livros”, comenta.

Já os mais novos, brincam de massinha, jogos de raciocínio e realizam a leitura e memorização de poemas juntamente dos pais. Valéria ressalta que, mesmo que cada filho esteja em uma fase diferente de aprendizado, eles respeitam o tempo um dos outros e também acabam aprendendo bastante ap

As crianças de Juliana e Marcelo ainda são muito pequenos. Por isso, ela explica que o ensino envolve muitas brincadeiras ao ar livre e judô para o desenvolvimento da coordenação motora grossa. Para a coordenação motora fina, atividades de traçado, recorte, colagem, pintura e massinha.

“Também fazemos exercícios de consciência fonológica, apreciação artística e musicalização, além de muita leitura em voz alta todos os dias”, conta.

Pelo fato de suas crianças nunca terem ido à escola, estudar em casa é algo muito natural para os filhos de Juliana, ainda mais que “convivem com muitas outras crianças de famílias que também praticam a educação domiciliar”, explica.

Conclusão dos estudos e vestibulares

Uma dúvida frequente que surge é quanto a conclusão dos estudos e a prestação de vestibulares para ingresso em Universidades. Hoje no Brasil os educandos do homeschooling fazem a prova do ENCCEJA (Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos) para obter os Certificados de Ensino Fundamental e Médio, podendo após prestar a prova do ENEM e ingressar em qualquer Instituição de Ensino Superior.

Alguns dados fornecidos por pais educadores à ANED demonstram que o índice de aprovação dos homeschoolers brasileiros nos exames nacionais aplicados pelo INEP (Prova Brasil e avaliações do Enceja para o Ensino Fundamental e Médio) é de 100%.

É fato que conforme as crianças crescem, o estudo torna-se mais complexo. Por isso, caso os pais já não consigam mais ensinar todo o conteúdo aos filhos, há a possibilidade da contratação de professores particulares, matricular em cursos especializados ou até mesmo cursos on-line. Juliana ressalta ainda que a tendência é que as crianças aprendam a estudar sozinhas.

“A experiência das famílias que praticam homeschooling mostra que, quando os filhos chegam na adolescência, os pais tornam-se mais diretores de estudos do que professores, pois os garotos aprendem a estudar sozinhos”, menciona.

Ela relembra também que um dos objetivos da educação domiciliar é criar o amor ao estudo nos filhos.

Apoio ao homeschooling

Engana-se quem pensa que as famílias praticantes do homeschooling no DF estão largadas às traças. A Associação de Famílias Educadoras (Fameduc) é uma organização sem fins lucrativos que atua no apoio à regularização do ensino domiciliar e na divulgação, esclarecimento e orientação dessa prática.

O diretor administrativo da Associação, Daniel Cavalcanti, explica que, apesar da associação ter iniciado este ano, o ensino já era uma realidade na capital e que a Fameduc tem se empenhado no apoio às famílias.

“A luta vem sendo árdua devido aos preconceitos de alguns setores da sociedade, mas o apoio das famílias e os resultados que estamos observando nas crianças educadas em casa nos dão confiança de que vale a pena o esforço”, conta Daniel.

Ademais, a instituição trabalha auxiliando os associados na prática do ensino, produzindo materiais de divulgação e prestando esclarecimentos jurídicos e técnicos acerca do Ensino Domiciliar no Brasil e no mundo, comenta o diretor.

Expectativas de aprovação

Algo em comum que tanto a família de Valéria, quanto a de Juliana e a própria Fameduc carregam, é a expectativa quanto a aprovação da medida, tendo em vista que “a PL regularizará a prática de centenas de famílias do DF e a tendência é que eleve esse número para mais de mil famílias”, conta o diretor administrativo da Fameduc.

Valéria não esconde a felicidade com o encaminhamento que o Projeto de Lei tem tomado pois as famílias adeptas da educação domiciliar é uma minoria em cima do muro. Marcelo, marido de Juliana, também segue com boas expectativas.

“Agora existe a possibilidade das famílias praticantes de homeschooling saírem da ilegalidade, além de acabar com o medo de sermos denunciados por não levarmos nossos filhos à escola”, finalizou Marcelo.

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Educação

IBGE revela que mais de 255 mil indígenas no Brasil são analfabetos

Dados do Censo 2022 revelam que a taxa de analfabetismo entre a população indígena é quase o dobro da média nacional

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Mais de 15% da população indígena do Brasil é analfabeta, aponta Censo 2022 do IBGE / Foto: Divulgação

De acordo com os dados do Censo 2022 divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) nesta sexta-feira (4), mais de 255 mil indígenas brasileiros são analfabetos, representando 15,05% da população indígena total no país. Este percentual revela uma situação preocupante, especialmente ao se considerar que a taxa de analfabetismo entre os indígenas é mais que o dobro da média da população brasileira, que foi de 7% em 2022.

O levantamento mostrou que, no total, 1.694.836 pessoas se identificavam como indígenas no Brasil em 2022. O analfabetismo foi definido pelo IBGE como a incapacidade de ler ou escrever pelo menos um bilhete simples no idioma que o indivíduo conhece.

Quando o foco é exclusivamente a população residente em Terras Indígenas, a situação é ainda mais alarmante: a taxa de analfabetismo sobe para 20,8%. Apesar desse panorama desafiador, os dados também indicam um crescimento na taxa de alfabetização entre os indígenas desde a pesquisa anterior, realizada em 2010. A taxa de analfabetismo entre essa população diminuiu de 23,4% para 15,05% em um período de 12 anos. Nas Terras Indígenas, o índice passou de 32,3% para 20,8%.

A pesquisa revela ainda que a proporção de analfabetismo é mais alta entre os mais velhos e entre as mulheres. Em 2022, 42,88% dos indígenas com 65 anos ou mais foram considerados analfabetos, enquanto a taxa para aqueles entre 60 e 64 anos foi de 29,21%. A menor taxa de analfabetismo, por sua vez, foi registrada entre os jovens de 18 a 19 anos, com apenas 5,5% não alfabetizados.

Em termos de gênero, 14,32% dos homens indígenas não sabiam ler ou escrever, enquanto o percentual entre as mulheres indígenas é um pouco maior, chegando a 15,74%. Esses dados ressaltam a necessidade de políticas públicas voltadas para a educação e inclusão da população indígena no Brasil, visando a redução do analfabetismo e a promoção da equidade social.

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Vestibular e Enem

Termina nesta sexta-feira prazo de inscrição para o Enem 2023

Provas serão aplicadas em 5 e 12 de novembro; taxa custa R$ 85

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Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Hoje, sexta-feira (16), encerra-se o prazo de inscrição para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2023. O exame será realizado nos dias 5 e 12 de novembro. Os interessados em participar ainda têm a oportunidade de se cadastrar na Página do Participante. É importante ressaltar que a taxa de inscrição no valor de R$ 85 deve ser paga até o dia 21 de junho.

O edital contendo o cronograma e as diretrizes para o Enem 2023 foi divulgado no início deste mês. Além de fornecer informações sobre as datas e horários das provas, o documento detalha os documentos necessários e as obrigações dos participantes, incluindo as situações em que um candidato pode ser eliminado.

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (Inep) também incluiu no edital critérios para a correção das provas e procedimentos para pessoas que necessitam de cuidados especiais durante a realização do exame.

Os gabaritos das provas objetivas serão disponibilizados no dia 24 de novembro, no portal do Inep. Já os resultados individuais serão divulgados em 16 de janeiro de 2024, também no mesmo site.

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Vestibular e Enem

Inscrições do Enem abrem hoje: Prepare-se para o exame mais aguardado do ano

Taxa de inscrição custa R$ 85 e deve ser paga até dia 21

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Arquivo Agência Brasil

A partir desta segunda-feira (5), os estudantes interessados em participar do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) poderão realizar suas inscrições. O certame está programado para ocorrer nos dias 5 e 12 de novembro, e o prazo para se cadastrar na Página do Participante se estenderá até o dia 16 de junho. É importante ressaltar que a taxa de inscrição é de R$ 85 e deve ser quitada até o dia 21 de junho.

O edital do Enem 2023, contendo o cronograma completo e as regras para a realização do exame, foi divulgado no início deste mês. Além de apresentar as datas e horários das provas, o documento detalha os documentos necessários para a inscrição e as responsabilidades do participante, incluindo as circunstâncias que podem levar à sua eliminação.

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (Inep) também incluiu no edital critérios para a correção das provas e procedimentos especiais para candidatos que necessitam de cuidados especiais durante o concurso.

Os gabaritos das provas objetivas serão disponibilizados no dia 24 de novembro no portal do Inep. Já os resultados individuais estão previstos para serem divulgados no dia 16 de janeiro de 2024, também no mesmo site.

Com a abertura das inscrições, é essencial que os estudantes se preparem adequadamente para esse importante desafio educacional, que pode abrir portas para o ingresso no ensino superior. Fiquem atentos aos prazos e boa sorte a todos os participantes do Enem 2023!

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