Cumaru do Norte, no sudeste do Pará, desponta como o município mais violento da Amazônia Legal, com uma taxa de 141,3 mortes violentas por 100 mil habitantes entre 2021 e 2023. A pequena cidade, com aproximadamente 14 mil habitantes, enfrenta uma combinação de fatores que fomentam o conflito, incluindo o garimpo ilegal, disputas por terras e desmatamento.
Apesar da grave situação de segurança, nenhuma facção criminosa foi identificada atuando na região, de acordo com o estudo “Cartografia das Violências na Amazônia”, realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) em parceria com o Instituto Mãe Crioula (IMC).
Um histórico marcado pelo garimpo
Fundado oficialmente no início dos anos 1990, Cumaru do Norte já havia sido povoado na década anterior devido ao garimpo de ouro. Desde então, a atividade econômica, em sua maior parte irregular, tem sido um dos principais motores da violência na região.
Na última semana, a jovem Kamila de Jesus foi assassinada dentro de um garimpo localizado na Terra Indígena Kayapó, área frequentemente alvo de operações da Polícia Federal (PF). O caso evidencia o impacto social do garimpo na escalada dos conflitos locais.
Além do garimpo, a extração ilegal de madeira é outro fator de degradação ambiental e tensões sociais. A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) classifica a situação em Cumaru do Norte no nível 4 de uma escala de risco que vai até 5, reforçando a gravidade do cenário.
Ausência de facções, mas violência persistente
Embora o estudo tenha identificado a presença de facções criminosas em 260 cidades da Amazônia Legal, Cumaru do Norte não está entre elas. Os pesquisadores apontam que o garimpo e os conflitos fundiários são os principais vetores da violência no município, diferentemente de outros locais onde facções, como o Comando Vermelho e o Primeiro Comando da Capital (PCC), desempenham papel central nos índices criminais.
Resposta das autoridades
Diante da gravidade da situação, o Conselho de Segurança Nacional criou o Projeto Cumaru, com foco em combater o contrabando de ouro, oferecer suporte aos garimpeiros e mediar os conflitos com comunidades indígenas. Contudo, a efetividade das medidas ainda é alvo de questionamentos por parte de especialistas.
“Tráfico de drogas, crimes ambientais, grilagem de terras e outras ilegalidades representam um desafio complexo, que não pode ser enfrentado de forma isolada”, aponta o relatório do FBSP.
As 10 cidades mais violentas da Amazônia Legal
O ranking das cidades com maiores taxas de mortes violentas intencionais nos últimos três anos destaca a liderança de Cumaru do Norte e revela a predominância do Pará entre os municípios mais afetados:
- Cumaru do Norte (PA) – 141,3
- Abel Figueiredo (PA) – 115,5
- Mocajuba (PA) – 110,4
- Novo Progresso (PA) – 102,7
- Nova Santa Helena (MT) – 102,3
- Iranduba (AM) – 102,3
- Calçoene (AP) – 100,8
- São José do Rio Claro (MT) – 100,1
- Nova Maringá (MT) – 96,5
- Floresta do Araguaia (PA) – 93,2
Um panorama preocupante
A Amazônia Legal, composta por nove estados brasileiros, enfrenta o avanço de crimes ambientais, narcotráfico e outras formas de violência. O estudo aponta que o número de municípios com presença de facções criminosas cresceu 46% no último ano, evidenciando o agravamento da crise de segurança pública na região.
O cenário em Cumaru do Norte reforça a necessidade de políticas públicas integradas que combatam não apenas a violência direta, mas também suas causas estruturais, como a exploração ilegal de recursos naturais e os conflitos fundiários.