Uma promissora designer de moda acusou a grife de luxo Balenciaga de se apropriar de seu trabalho. Ela afirma que a marca postou uma imagem nas mídias sociais muitíssimo parecida com uma de seu portfólio – o mesmo portfólio que havia sido enviado para a Balenciaga meses antes.
Ela acusou a empresa de “roubar, apropriar-se e lucrar com as ideias dos artistas POC (pessoas de cor)”.
A Balenciaga ainda não respondeu ao pedido de comentário da CNN.
Em comunicado divulgado no Instagram na quinta-feira (23), Nguyen, que mora em Berlim e é de origem vietnamita, disse que a imagem foi baseada no seu projeto de mestrado, que explora a cultura feminina de motocicletas do Vietnã.
Segundo a estilista alemã, uma recrutadora de Balenciaga que viu seu trabalho exibido na Universidade de Artes de Berlim e pediu duas vezes para ver seu portfólio.
Uma captura de tela de uma suposta troca de e-mails de outubro do ano passado parece mostrar um dos funcionários da marca solicitando o portfólio de Nguyen com a premissa de que a marca estava procurando estagiários.
Depois de responder com informações e imagens de seu trabalho, que incluíam fotos de motos envoltas em roupas, Nguyen disse que não teve resposta e não deu permissão para que ninguém usasse sua ideia.
“Eu não sou seu moodboard!”, escreveu a estilista num story do Instagram, exigindo que a marca pedisse desculpas e removesse a imagem. [Em moda, um moodboard é um conjunto de imagens que define o conceito por trás de uma coleção ou peça].
Em um e-mail à CNN, Nguyen disse que queria conscientizar as pessoas sobre a “exploração de jovens criativos”, especialmente aqueles que são negros, indígenas e pessoas de cor (BIPOCs).
“Não apenas (as grandes marcas) roubam as ideias artísticas e o intelecto dos alunos, mas também esperam que eles trabalhem de graça como estagiários”, desabafou. Ela acrescentou que a “exploração sistemática” havia “ficado normal na indústria da moda”.
Nguyen explicou que seu projeto estava enraizado na história de sua própria família e que sua mãe havia vendido uma moto “para imigrar para a Alemanha”.
“A ideia era desconstruir o estilo de rua emergente no Vietnã, conhecido como Street Ninja”, escreveu. “Eu colei roupas de proteção UV do Vietnã sobre uma moto para criar ‘esculturas vestíveis’”.
“Eu me sinto traída e magoada por fazer parte da minha cultura, é um processo artístico e não uma estética aleatória da moda com a qual você pode lucrar!”, acrescentou, afirmando em seu comunicado que o ato era “típico” da marca.
Nguyen disse à CNN que achava que uma resposta apropriada de Balenciaga seria um pedido de desculpas. “Além disso, espero que reconheçam sua prática de design tóxico de apropriação da ‘cultura de pouca leitura’ para torná-la ‘alta moda’”, acrescentou.
Nguyen pediu às universidades que fizessem mais para proteger os direitos de propriedade intelectual de seus alunos.Foto: Reprodução/ Instagram/ Balenciaga
Controvérsias passadas
Com criações baseadas na cultura pop e que elevam as imagens cotidianas em símbolos de status, a Balenciaga atraiu críticas de apropriação no passado.
Em 2017, a marca apresentou uma bolsa azul muito parecida com as produzidos pela Ikea, embora a peça da Balenciaga estivesse à venda por US$ 2.145.
O produtor musical Swizz Beatz também já acusou a marca de copiar o logotipo “R” usado pelo coletivo de hip hop e pela etiqueta Ruff Ryders.
Logotipos de outra coleção foram amplamente comparados ao da campanha presidencial de Bernie Sanders – mas o diretor criativo da Balenciaga, Demna Gvasalia, negou que Sanders tinha sido sua inspiração.
A marca própria (e cult) de Gvasalia, chamada Vetements, que ele deixou em setembro de 2019, é conhecida pelo uso de imagens da cultura de massa, incluindo uma cena do filme Titanic, que foi impressa em um capuz enorme e vestida por Celine Dion, que participou da trilha sonora do filme.
Em uma entrevista em 2019 ao Women’s Wear Daily, Gvasalia abordou essas críticas, dizendo que apropriação é “uma grande palavra que todo mundo está dando voltas à esquerda e à direita, mas ninguém realmente sabe de onde vem e por que”.
“Não foi Demna quem começou isso”, disse, referindo-se a si mesmo na terceira pessoa e em seguida comparando seu traballho com o de Marcel Duchamp, o artista que transformou objetos do cotidiano em obras de arte desejáveis e que, no fim, também foi acusado de se apropriar de ideias.
“Eu só queria ressaltar que a apropriação não começou como um conceito de moda comigo”, afirmou Gvasalia. “Talvez eu o tenha modernizado algum conceito para que ele fosse compreensível para a geração de consumidores com quem converso”.
Os críticos argumentam, no entanto, que há uma grande diferença entre os gestos irônicos com referências bastante conhecidas e (supostamente) não creditar um indivíduo menos conhecido por inspirar as imagens de uma marca.
No caso de Nguyen, ela diz que a Balenciaga ainda não havia entrado em contato com ela. “Em vez disso, eles ainda estão postando seus feeds como se nada tivesse acontecido”, acusou.