Turismo

Prospecção contribui para aumento de trilhas na Mata Atlântica

Caminhos abertos para o turismo afastam usos ilegais

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Tânia Rêgo/Agência Brasil

A descoberta de novas trilhas em regiões onde cidades estão desenvolvendo projetos de turismo ecológico está impulsionando a recuperação da vegetação da Mata Atlântica e trazendo de volta animais aos seus habitats naturais. Além disso, a identificação de novas trilhas tem um impacto positivo adicional, já que ajuda a afastar caçadores, já que os visitantes se apropriam dos locais anteriormente explorados de forma inadequada.

Esse trabalho está ganhando cada vez mais apoio, com organizações não governamentais (ONGs) como o Caminho da Mata Atlântica e as populações locais participando ativamente. As comunidades locais estão envolvidas em reuniões para determinar as áreas a serem visitadas, a fim de verificar se uma nova trilha pode ser criada.

De acordo com o coordenador nacional da comissão de governança do Caminho da Mata Atlântica e consultor do Caminho do Recôncavo, Chicão Schnoor, já é um fato histórico comprovado que a abertura de uma trilha para o turismo afasta outros usos ilegais. Schnoor acrescentou que “quanto mais fomentarmos um turismo consciente, responsável e regenerativo no território, melhor ele será preservado e gerará renda para as populações locais”.

Atualmente, duas trilhas de longo curso estão sendo implementadas na Baixada Verde, nome dado pelos ambientalistas à Baixada Fluminense, ao redor da Baía de Guanabara: o Caminho do Recôncavo da Guanabara e o Caminho da Mata Atlântica.

Parnaso

Magé, município localizado na área do Parque Nacional da Serra dos Órgãos (Parnaso), é o único que não possui uma sede de entrada e postos de fiscalização, como os outros municípios da região, como Petrópolis, Teresópolis e Guapimirim.

Segundo o coordenador do Caminho da Mata Atlântica, Chicão, a expansão da área do parque chegou em grande parte até Magé, o que pode ser visto como uma vantagem, mas ao mesmo tempo tornou-se restritiva, impedindo visitações. O turismo responsável pode gerar uma grande fonte de renda, e Chicão acredita que é necessário criar um zoneamento do parque para estruturar os atrativos de Magé e abrir uma portaria para que os turistas possam aproveitar a região.

Chicão também revelou que tentou fazer a prospecção de uma trilha na área intangível, mas não pôde consolidá-la. Ele encontrou um acampamento de caçadores ilegal e afirma que, quando o turista não vem, o caçador vai. Ele acredita que abrir a região para turismo e educação ambiental é o papel de um parque nacional, e é isso que o Parnaso deveria fazer em Magé.

Mauá (RJ), 30/03/2023 – Estação ferroviária Guia de Pacobaíba, a primeira estação ferroviária do Brasil, inaugurada em 30 de abril de 1854 com a presença do imperador D. Pedro II. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil – Tânia Rêgo/Agência Brasil

O Caminho da Mata Atlântica, planejado em 2012 como roteiro macro de trilhas, já aumentou o planejamento em mais de mil quilômetros. Chicão afirma que os novos rumos de caminhadas são definidos após conversas com populações locais, procurando desvios mais interessantes para atrair turistas. Por isso, toda definição de nova trilha começa com uma reunião com a comunidade local, mostrando o traçado planejado em 2012. É assim que o Caminho da Mata Atlântica vai ganhando extensões, como a parte que atualmente passa pela Guia de Pacobaíba, em Magé.

Além disso, há também o Caminho do Recôncavo da Guanabara, seguindo Schnoor, que é baseado em iniciativa com a possibilidade de um traçado que ainda não foi mapeado. Para isso, é necessário fazer uma prospecção de campo antes de se ter uma prospecção de pessoas.

A próxima etapa é verificar a rota que pode ser realizada entre a Reserva Ecológica de Guapiaçu (Regua), em Cachoeiras de Macacu, e a Ecovila El Nagual, em Santo Aleixo, em Magé. Chicão afirma que o Caminho da Mata Atlântica é uma trilha muito grande, são 4.300 quilômetros, e que já tem 800 km sinalizados, hotéis e guias cadastrados como parceiros oficiais para apoio do Caminho, mas que como é um quebra-cabeças de várias trilhas já existentes, pode ser feito completo se alguém quiser.

Cachoeiras de Macacu (RJ), 28/03/2023 – Vista de parte do Parque Estadual dos Três Picos a partir da Reserva Ecológica de Guapiaçu (REGUA), Cachoeiras de Macacu, Região Serrana do Rio de Janeiro. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil – Tânia Rêgo/Agência Brasil

Acessibilidade

Garantir a acessibilidade em trilhas naturais é um desafio enfrentado por muitos parques nacionais e estaduais no Brasil. Enquanto algumas trilhas são acessíveis para visitantes inexperientes, outras apresentam obstáculos que exigem habilidades específicas, como atravessar rios, desviar de troncos caídos ou andar em mata fechada e em áreas encharcadas. Thiago Valente, gerente de projetos da Fundação Boticário e líder do Movimento Viva Água Baía de Guanabara, destaca a importância de deixar claro o nível de dificuldade das trilhas para garantir a acessibilidade. Mesmo em áreas formalmente protegidas, como os parques nacionais e estaduais, há uma carência significativa de investimentos que possam garantir a segurança dos visitantes.

Valente destaca a oportunidade perdida pelo Brasil em investir em turismo ecológico, ao contrário dos Estados Unidos, onde o setor movimenta bilhões de dólares por ano. A falta de infraestrutura é um dos gargalos para o desenvolvimento do turismo em trilhas naturais. Valente acredita que parcerias público-privadas podem ser uma solução para impulsionar investimentos nesse setor.

Para alcançar a acessibilidade em trilhas, investimentos públicos são necessários em unidades governamentais federais e estaduais. No entanto, o interesse em projetos privados vem crescendo, com potenciais investidores buscando projetos com impactos sociais e ambientais positivos. Estudos de acessibilidade e a construção de infraestrutura adequada podem facilitar a chegada dos turistas e oferecer uma experiência completa e segura. A criação de alianças entre a iniciativa privada e o poder público pode ser um desafio coletivo para garantir a acessibilidade em trilhas naturais, como na Baía de Guanabara.

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