PEQUIM (Reuters) – A China pediu a suas empresas estatais que suspendam compras de soja e carne suína dos Estados Unidos, disseram duas fontes com conhecimento do assunto, após o governo norte-americano ter afirmado que iria eliminar o tratamento especial dos EUA a Hong Kong como forma de punição a Pequim.
Grandes volumes em aquisições estatais de milho e algodão dos EUA também foram colocadas em suspenso, disse uma das fontes.
A China poderia expandir a ordem para incluir outros produtos agrícolas dos Estados Unidos caso Washington tome medidas adicionais, disseram as fontes.
“A China pediu às principais estatais que suspendessem compras em grande escala de produtos agrícolas dos EUA como soja e carne suína, em resposta à reação dos EUA sobre Hong Kong”, disse a fonte.
“Agora vamos acompanhar e ver o que os EUA farão a seguir”.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse na sexta-feira que havia direcionado sua administração a começar um processo para eliminação do tratamento especial concedido a Hong Kong, que vai de um tratado de extradição a controles de exportação. Isso seria uma resposta a planos da China de impor uma nova legislação de segurança no território.
A China está pronta a parar as importações de mais produtos agrícolas dos EUA caso o governo norte-americano tome mais medidas sobre Hong Kong, disseram as fontes.
Importadores chineses cancelaram de 10 mil a 20 mil toneladas de embarques de carne suína dos EUA— o equivalente a quase uma semana em pedidos nos últimos meses— após os comentários de Trump na sexta-feira, segundo uma das fontes.
Compras estatais de grandes volumes de milho e algodão foram suspensas, mas os detalhes ainda não estavam claros.
No pior cenário, se Trump continuar a mirar a China, o governo chinês teria que abandonar a fase 1 do acordo comercial entre os países, disse uma segunda fonte com conhecimento dos planos do governo.
“Não haverá meios de Pequim comprar produtos adicionais dos EUA enquanto estiver recebendo constantes ataques de Trump”, disse a pessoa.
A China se comprometeu com compras adicionais de 32 bilhões de dólares em produtos agrícolas dos EUA ao longo de 2 anos sob o acordo comercial assinado em janeiro pelos países, com metas estabelecidas sobre dados de 2017.
A China já comprou soja, milho, trigo e óleo de soja dos EUA neste ano, visando cumprir sua parte no acordo. Pequim também ampliou as compras de carne suína dos EUA após a peste suína africana ter dizimado seu rebanho.
O Departamento de Agricultura dos EUA registrou que a China comprou 1,028 bilhão de dólares em soja e 691 milhões de dólares em carne suína no primeiro trimestre de 2020.
Importadores privados não receberam pedidos do governo para suspender compras dos EUA, segundo uma terceira fonte, de uma trading, que ressaltou no entanto que compradores estão cautelosos no momento.
“Uma certa parcela do comércio será paralisada” devido à tensão crescente entre China e os EUA em outras áreas, mas não é uma paralisação total, disse uma quarta fonte, com conhecimento dos planos do governo.
A China, no entanto, poderia encontrar facilmente outros vendedores (de produtos agrícolas), acrescentou essa pessoa.
As fontes recusaram-se a ser nomeadas devido à sensibilidade do tema.
Por Hallie Gu e Jing Xu em Pequim e Keith Zhai em Cingapura; reportagem adicional de Dominique Patton e Gavin Maguire