Mundo

75% dos lixos plásticos encontrados nas praias do Nordeste vieram da África, aponta pesquisa

Principalmente da República Democrática do Congo, destacando os riscos à saúde pública e o impacto ambiental

Publicado

on

Pesquisa revela que 75% do lixo plástico nas praias do Ceará vem da África

Uma pesquisa publicada na revista científica Science of The Total Environment revela que 78,5% da poluição plástica encontrada nas praias do Ceará tem origem africana, com 90% desse total vindo da República Democrática do Congo. Coordenada pelo Projeto Detetive do Plástico, a pesquisa mostra que apenas 15,7% dos plásticos encontrados são de origem brasileira, enquanto 5,8% provêm de outros países, incluindo Índia, Emirados Árabes Unidos, China, Itália e Alemanha.

Lixo trazido por correntes marítimas

O estudo, que utilizou simulações computacionais para monitorar a movimentação dos resíduos, apontou que o lixo é transportado pelas correntes marítimas em um percurso de cerca de cinco a seis meses, da foz do Rio Congo até o litoral brasileiro, especialmente no segundo semestre do ano.

“O que estamos comprovando é que o aporte de plástico nas praias está fortemente associado às correntes marinhas. Estamos recebendo plásticos da África, mas também exportando plástico para outros países. Tudo está conectado”, explica o oceanógrafo Tommaso Giarrizzo, integrante do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Mapeamento e marcas

A pesquisa também analisou as marcas dos resíduos encontrados. Utilizando técnicas de auditoria de marcas e o Google Lens para identificar logotipos, foram coletados 1.062 resíduos plásticos. Desses, 591 itens possuíam marcas, com 464 (75%) pertencendo a 31 marcas de empresas-mãe africanas.

Dentre as marcas encontradas, 15 eram da indústria de bebidas e 15 da indústria de cosméticos. As tampas de garrafas de refrigerante, suco e água representaram 79,8% dos resíduos africanos. Três marcas congolesas foram responsáveis por 57,9% de todo o lixo encontrado: Festa Cola (36,7%), Zest (13,8%) e Swissta (7,4%).

Riscos à saúde e impacto ambiental

A presença desses resíduos estrangeiros não apenas agrava a poluição ambiental, mas também representa riscos à saúde pública, uma vez que plásticos de diferentes origens podem transportar patógenos desconhecidos. Globalmente, a situação é alarmante: cerca de 385 milhões de toneladas de plástico são produzidas anualmente, com uma quantidade significativa sendo despejada nos oceanos.

Estima-se que entre 8 e 12,7 milhões de toneladas de plástico sejam lançadas ao mar todos os anos, e as projeções indicam que esses números podem triplicar até 2040. Entre 2010 e 2020, o Brasil descartou 940 mil toneladas de resíduos plásticos, segundo um estudo do Center for Ocean-Atmospheric Prediction Studies (COAPS).

Diante dessa crise, a ONU está mediando um tratado global entre 175 países para combater a poluição plástica, com foco na proibição de plásticos descartáveis e na promoção da reciclagem.

Clique para comentar

Popular

Sair da versão mobile