Nos últimos anos, tem se observado um aumento significativo no número de casos de câncer orofaríngeo, especialmente os associados ao papilomavírus humano (HPV). Esse tipo de câncer, que afeta áreas como as amígdalas e a parte posterior da garganta, tem sido cada vez mais relacionado à prática de sexo oral, embora o HPV também possa ser transmitido por outras formas de contato sexual.
O HPV, uma das infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) mais comuns no mundo, tem se mostrado responsável por uma parte crescente desses tumores. Estima-se que o vírus seja o causador de até 70% dos casos de câncer orofaríngeo nos Estados Unidos, segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). No Brasil, a incidência do câncer de orofaringe relacionado ao HPV também tem aumentado, com registros dobrando na cidade de São Paulo entre 1997 e 2013, de acordo com estudos da Universidade de São Paulo (USP).
O médico-cirurgião de cabeça e pescoço da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Instituto Nacional de Câncer (INCA), Ullyanov Toscano, ressalta que a prevalência de tumores de orofaringe relacionados ao HPV tende a se igualar aos causados pelo tabagismo nas próximas décadas. “Entre 2030 e 2040, os casos de câncer de orofaringe ligados ao HPV devem superar os de tabagismo, que ainda são mais prevalentes hoje em dia”, explica Toscano.
Sintomas e riscos
Os sintomas desse tipo de câncer podem incluir dor de garganta persistente, rouquidão, dor ao engolir, inchaço nos gânglios linfáticos e perda de peso inexplicada. Porém, em alguns casos, os pacientes não apresentam sintomas visíveis, o que dificulta o diagnóstico precoce.
A infecção por HPV pode ser silenciosa e permanecer no corpo por anos sem que o sistema imunológico manifeste sinais da doença. Em alguns casos, a infecção se resolve espontaneamente, mas, quando persistente, pode levar ao desenvolvimento de lesões que, sem tratamento, evoluem para tumores. O HPV pode infectar a pele e as mucosas da região genital, anal e orofaríngea, sendo transmitido principalmente por via sexual, seja vaginal, oral ou anal.
Prevenção e vacinação
O uso de preservativos, tanto internos quanto externos, durante a relação sexual, continua sendo uma das principais formas de prevenção contra o HPV e outras ISTs. Além disso, a vacinação contra o vírus tem se mostrado uma medida eficaz na prevenção de diversos tipos de câncer causados pelo HPV, incluindo os de colo de útero e orofaringe.
No Brasil, a vacinação contra o HPV é oferecida gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para meninas e meninos de 9 a 14 anos e para pessoas com HIV/Aids, transplantadas ou em tratamento oncológico, de até 45 anos. Contudo, a cobertura vacinal ainda está aquém das metas estabelecidas pelo Ministério da Saúde, com uma adesão de apenas 76,3% entre meninas para a primeira dose e 57,7% para a segunda dose.
Especialistas, como Toscano, enfatizam que a vacinação precoce é fundamental para evitar que os jovens, ao entrarem na vida sexual ativa, sejam expostos ao HPV e desenvolvam lesões malignas na orofaringe.
Perspectivas futuras
Com o aumento da prevalência de cânceres orofaríngeos relacionados ao HPV, pesquisadores e médicos continuam alertando para a importância da prevenção, diagnóstico precoce e do acompanhamento constante de pacientes com histórico de infecção pelo vírus. O foco agora é ampliar a vacinação e conscientização sobre os riscos associados à infecção e à prática de sexo oral, visando reduzir a incidência dessa doença nos próximos anos.