No coração da Floresta Amazônica, a mais de 60 km de Manaus, uma chef indígena encontrou no empreendedorismo uma maneira de preservar a cultura de seu povo e fortalecer a comunidade. Neurilene Cruz, também conhecida como Miski, da etnia Kambeba, transformou sua paixão pela culinária em um restaurante que hoje recebe turistas do mundo todo em busca de uma autêntica experiência gastronômica amazônica.
Fundado em 2009, o restaurante Sumimi surgiu por necessidade durante a construção de uma escola na aldeia indígena Três Unidos. Na época, o arquiteto responsável pela obra percebeu a falta de um local para alimentar os trabalhadores e decidiu investir R$ 5 mil para que Neurilene iniciasse seu próprio negócio. O investimento inicial foi rapidamente recuperado, e o restaurante começou a prosperar.
Culinária tradicional Kambeba
O Sumimi é especializado na culinária tradicional Kambeba, utilizando ingredientes amazônicos como peixes regionais (tambaqui e pacu), urucum e cipó-alho. O prato mais famoso do cardápio é o faní, uma iguaria feita de macaxeira ralada e recheada com pirarucu cozido na folha de bananeira.
“O faní é um prato que representa nossa tradição. A macaxeira ralada com pirarucu cozido não é assada, como muitos pensam. Ela é cozida na folha de banana, o que dá um sabor especial e autêntico”, explica Neurilene.
Os preços dos pratos variam de R$ 40 a R$ 60, e o restaurante atende até 100 pessoas ao mesmo tempo, funcionando exclusivamente com reservas. A decisão de trabalhar com reservas antecipadas ajuda a lidar com a falta de energia elétrica na aldeia, já que o fornecimento de luz ainda é precário. “Preciso de pelo menos três a cinco dias para organizar a alimentação e garantir a qualidade dos pratos, pois não tenho como conservar os alimentos sem energia elétrica constante”, relata a chef.
Fortalecendo a comunidade
O sucesso do Sumimi vai além da culinária. Para Neurilene, a oportunidade de empreender também é uma forma de fortalecer outras mulheres da comunidade indígena. O restaurante emprega várias funcionárias, como Luziânia Barbosa, que destaca a importância da independência financeira conquistada através do trabalho. “Eu trabalho desde o começo. É muito importante essa oportunidade de buscar o meu próprio dinheirinho como mulher indígena”, afirma Luziânia.
O incentivo familiar também foi crucial para o crescimento do negócio. Neurilene conta que seu pai, Waldemir da Silva, líder da comunidade Três Unidos, foi um grande apoiador da expansão do restaurante. Com o passar dos anos, o Sumimi se tornou um destino popular entre turistas que visitam a Amazônia, contribuindo para o desenvolvimento econômico e cultural da região.
Desafios e preservação ambiental
Apesar do sucesso, Neurilene enfrenta desafios para manter o negócio funcionando em um local com infraestrutura limitada. A ausência de energia elétrica confiável dificulta a conservação dos alimentos e exige planejamento rigoroso para atender os clientes. Ainda assim, o restaurante prospera, faturando entre R$ 30 mil e R$ 40 mil por mês.
Além de promover a cultura Kambeba, o restaurante se preocupa com a preservação do meio ambiente. A comunidade indígena Três Unidos é conhecida por suas práticas sustentáveis e pelo respeito à floresta. O restaurante Sumimi segue essa mesma linha, utilizando ingredientes locais e métodos de preparo tradicionais que minimizam o impacto ambiental.
Endereço e contato
O restaurante Sumimi está localizado na comunidade indígena Três Unidos, na margem esquerda do Rio Negro, e só funciona mediante reservas.
Os interessados em experimentar a culinária Kambeba podem entrar em contato pelo telefone: (92) 99322-1083 ou pelo e-mail cneurilene@gmail.com.
O Sumimi também está presente no Instagram, onde é possível conferir mais detalhes sobre a experiência gastronômica oferecida.