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Justiça

Ministros do STF e governo defendem redes reguladas; empresas rebatem

Tema está em debate em audiência pública no STF

Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Nesta terça-feira (28), ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e de Estado participaram de uma audiência pública em defesa da regulação das redes sociais, com a responsabilização das empresas que as oferecem ao público. Por outro lado, advogados das bigtechs, como Google e Meta, proprietárias de redes e aplicativos como YouTube, Instagram, Facebook e WhatsApp, contestaram a iniciativa, argumentando que a autorregulação já existente pode ser aprimorada para garantir uma internet mais segura no Brasil.

A audiência pública foi convocada pelos ministros Dias Toffoli e Luiz Fux, que são relatores de dois recursos que tratam do uso abusivo das redes sociais e pedem a remoção de conteúdos. O tema é de interesse público, afirmou Fux na abertura.

Os processos visam determinar se trechos do Marco Civil da Internet estão de acordo com a Constituição, em especial o Artigo 19 da lei, que trata da remoção de conteúdo mediante ordem judicial. A audiência começou na manhã de terça e segue até amanhã (29), abrangendo também projetos de lei que visam regular as redes sociais e proteger a democracia no ambiente digital, especialmente o chamado Projeto de Lei (PL) das Fake News.

“Creio que é muito importante que o Congresso Nacional, de forma célere, delibere, para que tenhamos parâmetros legais para a atividade de plataformas digitais no Brasil, inspirados nas boas experiências internacionais”, disse o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), relator do projeto de lei, na abertura da audiência.

Além de ministros do STF e de governo, bem como os representantes das plataformas, que também falaram durante a abertura dos trabalhos, estão previstas as participações de representantes do Ministério Público, da Associação Nacional de Jornais (ANJ), da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

Ministros do Supremo

Durante a manhã, uma das falas mais enfáticas foi a do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, que também atua como presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e colaborou diretamente com as plataformas de redes sociais para garantir a segurança das eleições gerais de 2022.

Segundo Moraes, “não podemos continuar achando que as redes sociais são território sem lei, sem qualquer responsabilidade. Não é possível que, apenas por serem instrumentos e depositários das comunicações, [as plataformas] não tenham nenhuma responsabilidade. O modelo atual está falido”.

O ministro citou os ataques ao Três Poderes em 8 de janeiro, que teriam sido coordenados via redes sociais, como exemplo da falência desse modelo. Já o ministro Luís Roberto Barroso afirmou que há consenso sobre os problemas das redes, que ameaçam a democracia e a dignidade dos indivíduos nos moldes atuais, tornando-se “instrumentos do extremismo político”.

Barroso ainda ressaltou que “todo o mundo democrático está debatendo como lidar com este problema sem afetar a liberdade de expressão”. Gilmar Mendes, que também vem defendendo a responsabilização das redes sociais, acrescentou que episódios como o de 8 de janeiro “de alguma forma guardam conexão direta com esse uso abusivo da internet. É claro que o sistema jurídico precisa encontrar meios e modos de lidar com essa temática”.

Ministros de governo

Durante sua vez, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, afirmou que o governo tem uma posição “opinativa” sobre o assunto, já que a deliberação do tema cabe ao Judiciário e ao Legislativo, mas que está disposto a contribuir com os debates internos e a dar sua opinião, pois é para isso que é pago.

Dino defendeu a ideia de que existem limites para as manifestações nas redes sociais e que isso não ameaça os direitos fundamentais. “A liberdade de expressão não está em risco quando se regula. Pelo contrário, regular a liberdade de expressão é defender a liberdade de expressão”, afirmou o ministro. Por essa razão, ele acrescentou que “não há nada de estranho, heterodoxo ou pecaminoso nesta corte ou no Congresso em discutir a regulamentação do conteúdo da liberdade de expressão”.

Dino explicou que o governo está debatendo internamente em três frentes diferentes, com propostas de regulamentação relacionadas ao direito do consumidor, à responsabilidade civil “ponderada e proporcional” das plataformas de redes sociais que permitem abusos e também questões relacionadas à transparência e à auditabilidade de algoritmos.

“Não estamos tratando apenas de modelos de negócios. Estamos falando do controle das subjetividades na sociedade, estamos falando do controle do espaço público e do discurso político da sociedade, muito além dos hábitos de consumo”, disse o ministro.

Jorge Messias, ministro-chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), concordou com Dino e afirmou que “o debate sobre o regime de responsabilidades dos provedores de aplicativos ou ferramentas de internet está absolutamente na ordem do dia. E há uma grande convergência nesse sentido”.

O ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, também concordou com essa posição e destacou a necessidade de um trabalho de reorientação e educação midiática em defesa da democracia. “O problema é muito mais complexo do que simplesmente estabelecer regulação ou balizas burocrático-institucionais, nós sabemos disso”, enfatizou. Ele acrescentou que é necessário “assumir essa tarefa de colocar um freio institucional [no abuso das redes], que permita uma reorientação cultural e ideológica de toda a sociedade”.

Dino e Almeida também mencionaram o ataque ocorrido em uma escola na zona oeste de São Paulo no dia anterior, no qual um aluno de 13 anos esfaqueou e matou uma professora de 71 anos, além de ferir outros professores e colegas. Eles relacionaram o incidente à liberdade encontrada nas redes para a disseminação de discursos de ódio.

Plataformas

O advogado Rodrigo Ruf Martins, em nome da multinacional de tecnologia Meta, que é dona de plataformas como Instagram, Facebook e WhatsApp, argumentou contra a ideia de que responsabilizar civilmente as plataformas resultará em um ambiente mais seguro para a internet brasileira. Ele citou os termos de uso das redes sociais da empresa que já preveem a remoção de conteúdos ilegais, como a pedofilia e a violação de direitos autorais. Martins trouxe números que mostram que a empresa remove milhões de publicações voluntariamente de suas plataformas sem necessidade de ação do Estado.

Martins mencionou a parceria da Meta com o TSE, que levou à remoção de publicações prejudiciais ao processo eleitoral, e afirmou que a empresa não foi omissa no combate a conteúdos violadores durante as eleições de 2022 e em 8 de janeiro. Ele destacou a integridade como uma parte extremamente relevante do modelo de negócios da empresa, pois os anunciantes não desejam associar suas marcas a conteúdos indesejados ou investir em plataformas que permitam esse tipo de comportamento online.

Além disso, Martins mencionou as maiores ameaças à internet brasileira, como a edição de medidas executivas que restrinjam o poder de moderação das plataformas, projetos legislativos que preveem uma espécie de imunidade para autoridades nas redes e o acúmulo de ações judiciais que pedem a liberação de conteúdos moderados pelas plataformas.

O advogado-sênior do Google, Guilherme Cardoso Sanches, também argumentou que a empresa remove milhões de conteúdos anualmente de suas plataformas sem necessidade de legislação adicional e decisão judicial. Ele ressaltou que a responsabilização das plataformas como se fossem responsáveis pelos conteúdos que hospedam levaria a um dever genérico de monitoramento de todo o conteúdo produzido pelas pessoas, desnaturando completamente o ambiente plural da internet.

Cardoso Sanches acrescentou que a atuação do Judiciário é necessária em casos limítrofes, em que haja dúvida sobre a legalidade do conteúdo. Ele argumentou que criar leis e regras adicionais restringiria a liberdade de autorregulação das plataformas, o que não levaria a uma maior celeridade na remoção de conteúdo. Ele destacou que agir responsavelmente é o certo a fazer e faz bem para os negócios, pois conteúdos ilícitos e danosos não trazem benefícios econômicos e corroem a confiança do público e dos anunciantes.

Justiça

Após seis anos de espera, famílias de Marielle e Anderson celebram decisão histórica

Condenação histórica de Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz traz alívio às famílias de Marielle Franco e Anderson Gomes após seis anos de espera por justiça

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Para os familiares, a sentença trouxe um misto de alívio e dor / Foto: Reprodução

Ronnie Lessa foi condenado a 78 anos e nove meses de prisão, e Élcio de Queiroz a 59 anos e oito meses no julgamento pelos assassinatos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Na noite de quinta-feira, a juíza Lúcia Glioche, do IV Tribunal do Júri, dirigiu palavras contundentes aos réus e àqueles que, como eles, permanecem impunes pela cidade do Rio de Janeiro.

Em seu veredito, Lessa, apontado como o atirador, foi responsabilizado pelos disparos que tiraram a vida de Marielle e Anderson em 14 de março de 2018, enquanto Élcio, que conduzia o veículo, recebeu uma pena significativa. Ambos foram considerados culpados pelo duplo homicídio triplamente qualificado e pela tentativa de homicídio contra Fernanda Chaves, assessora de Marielle, além da receptação do veículo usado no crime.

Para os familiares, a sentença trouxe um misto de alívio e dor. Antônio da Silva Neto, pai de Marielle, expressou seu sentimento à neta Luyara: “Pela sua mãe, conseguimos”. Já Ágatha Arnaus, viúva de Anderson, manifestou sua recusa em perdoar os assassinos, apesar de um pedido de desculpas de Lessa durante o julgamento: “Eu tenho paz na minha vida, mas não preciso perdoar”.

A condenação estabelece também que os réus devem contribuir financeiramente para o sustento do filho de Anderson, além de dividir uma indenização para os familiares das vítimas. A ministra Anielle Franco, irmã de Marielle, ainda abalada, mencionou a dificuldade em ouvir os detalhes do crime: “A maneira como falavam parecia que estavam apenas rasgando papel”.

O promotor Mario Lavareda sublinhou que a violência cometida não impacta apenas as vítimas diretas, mas a sociedade como um todo. O desfecho do julgamento, marcado por forte emoção e manifestações de apoio, trouxe um sentido de justiça para as famílias e reascendeu o debate sobre a segurança e a impunidade no país.

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Justiça

Traficante que atuava perto do STF guardava lista de clientes com apelidos como Mijão e Batata

Mais de 50 policiais participaram da ação, contando com o apoio de equipes da Divisão de Operações Especiais (DOE) e cães farejadores

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Polícia Civil do DF desmantela esquema de tráfico de drogas próximo ao STF

Douglas Ramos da Silva, eletricista apontado como intermediador entre fornecedores de drogas e servidores do Supremo Tribunal Federal (STF), mantinha um caderno com registros dos clientes e pagamentos. A descoberta ocorreu em setembro do ano passado, durante uma operação da 5ª Delegacia de Polícia (área central) que resultou na prisão do traficante.

Na manhã desta quinta-feira (10/10), a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) realizou uma nova ação para localizar os fornecedores envolvidos no esquema. Na lista de clientes apreendida, constavam apelidos inusitados como “Mijão”, “Batata” e “Minhoquinha”.

Operação Shadow

A operação desta quinta-feira faz parte de um esforço contínuo da 5ª DP para desarticular uma quadrilha especializada no tráfico de drogas. As transações entre os traficantes e seus clientes, que incluíam servidores de órgãos públicos como o STF, eram realizadas através do WhatsApp.

Após cerca de um ano de investigações, a polícia identificou quatro suspeitos principais, responsáveis pela distribuição de entorpecentes na região. A operação cumpriu mandados de prisão e busca em Samambaia, Ceilândia e Águas Lindas (GO). Mais de 50 policiais participaram da ação, contando com o apoio de equipes da Divisão de Operações Especiais (DOE) e cães farejadores.

Estrutura do esquema

As investigações revelaram uma rede bem estruturada de distribuição de drogas, que se beneficiava de tecnologia para realizar transações, como grupos de WhatsApp e transferências financeiras. O nome da operação, “Shadow”, faz referência ao modo discreto como o grupo atuava, evitando chamar a atenção das autoridades.

Entre os alvos da ação está um homem de 34 anos, morador de Samambaia, que desempenhava um papel de intermediário na logística de distribuição. Ele já possuía antecedentes por crimes como lesão corporal e violência doméstica. Outro alvo, com histórico criminal desde 2009, era um dos principais fornecedores da quadrilha.

Outros integrantes incluíam um jovem de 23 anos, que vivia em Águas Lindas e usava vários endereços para despistar a polícia, e um homem de 36 anos, que cumpria prisão domiciliar, mas ainda participava da organização criminosa.

Os suspeitos vão responder por tráfico de drogas e associação ao tráfico, crimes que podem render penas entre 5 e 15 anos de prisão.

Posicionamento do STF

Em nota oficial, o STF declarou estar colaborando com as investigações sempre que solicitado. O tribunal destacou que o suposto fornecimento de drogas teria ocorrido em um estacionamento próximo à Corte, mas que não pertence ao STF. O órgão também ressaltou que não há qualquer indício de envolvimento de servidores nas atividades criminosas.

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Operação Gerontes: PF investiga fraudes previdenciárias com idosos falsos no INSS

A ação resultou em apreensões e a descoberta de benefícios ilegais.

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Servidores estariam utilizando documentos fraudulentos para "criar" idosos

A Polícia Federal (PF) deflagrou, nesta quarta-feira (9), a Operação Gerontes, com o objetivo de desmantelar um esquema de fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) nos estados do Pará e Maranhão. A ação visa investigar a manipulação de dados por servidores da autarquia para possibilitar a concessão indevida de empréstimos e aposentadorias.

Segundo as investigações, os funcionários do INSS teriam inserido informações falsas no sistema, permitindo a contratação de empréstimos consignados em nome de aposentados, causando prejuízos significativos a várias instituições financeiras. Além disso, os servidores estariam utilizando documentos fraudulentos para “criar” idosos, com o intuito de obter a concessão de aposentadorias por idade do trabalhador rural para indivíduos sem direito ao benefício.

Em colaboração com a PF do Maranhão, foram executados três mandados de busca e apreensão em residências, além de medidas para o levantamento de dados telemáticos e bloqueio de bens pertencentes a funcionários do INSS nas cidades de São Luís (MA), São Mateus (MA) e Marabá (PA). Durante a operação, foram confiscados dois veículos, R$ 11.765, celulares e outros dispositivos eletrônicos dos suspeitos, embora até o momento ninguém tenha sido preso.

Até agora, foram identificados dois benefícios que foram concedidos utilizando o mesmo método fraudulento, resultando em um prejuízo estimado de R$ 59.486,47 aos cofres públicos. Se as suspeitas de estelionato previdenciário forem confirmadas, os envolvidos poderão enfrentar processos judiciais por seus crimes.

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