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Multa de R$ 5 milhões a fornecedor da Bunge por desmatamento ilegal no Piauí

Igor Comparin, produtor de soja, foi penalizado por devastar 2,5 mil hectares de Cerrado; especialistas apontam que essa destruição ameaça a fauna local

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O produtor recebeu dois embargos: um por desmatar 1.971,7 hectares sem autorização e outro por suprimir 618,9 hectares na reserva legal

Um produtor de soja no Piauí, Igor Comparin, foi multado em R$ 5 milhões após desmatar ilegalmente uma área equivalente a 2,5 mil campos de futebol no Cerrado. Essa ação é considerada uma das principais ameaças à fauna silvestre da região, de acordo com especialistas consultados pela Repórter Brasil.

A Fazenda São Francisco, propriedade de Comparin, localizada em Palmeira do Piauí, foi embargada em janeiro de 2023 pela Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Piauí (Semarh) devido ao desmatamento ilegal. O produtor recebeu dois embargos: um por desmatar 1.971,7 hectares sem autorização e outro por suprimir 618,9 hectares na reserva legal, que é uma área de preservação obrigatória. Além disso, ele foi multado em R$ 800 mil pela instalação de atividades que utilizam recursos naturais na propriedade.

Apesar dos embargos, imagens de satélite analisadas pela ONG AidEnvironment indicam que, em 2023, houve cultivo de soja na fazenda, incluindo em áreas embargadas. Entre 2021 e 2022, Comparin obteve financiamento do Banco John Deere, com apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para aquisição de maquinário agrícola.

Suspeitas de irregularidades na origem da soja

Em março de 2024, mais de um ano após as autuações, Comparin forneceu soja para uma unidade da Bunge em Bom Jesus, município vizinho. Documentos fiscais revelam que a origem dos grãos é a Fazenda Comparin, localizada a 104 km da Fazenda São Francisco, onde ocorreram os embargos. Especialistas levantaram suspeitas de “lavagem” de grãos, prática em que produtores emitem notas de propriedades sem restrições ambientais para disfarçar a origem de soja de áreas desmatadas ilegalmente.

João Gonçalves, diretor da organização Mighty Earth no Brasil, expressou preocupações sobre a possível irregularidade e a necessidade de a Bunge reforçar o monitoramento de sua cadeia de suprimentos. Ele questionou a capacidade da empresa em cumprir seu compromisso de eliminar o desmatamento até 2025 se não houver controle adequado sobre seus fornecedores.

Em resposta à reportagem, a Bunge não se manifestou sobre suas relações comerciais, mas afirmou que considera a possibilidade de “triangulação” de grãos nos procedimentos de análise de restrições socioambientais, além de checar a capacidade das fazendas para fornecer o volume adquirido.

Defesas e implicações legais

O advogado de Igor Comparin, Fernando Chinelli, alegou que o proprietário anterior da Fazenda São Francisco possuía licença ambiental e que Comparin realizou a limpeza de uma área anos depois, o que gerou as autuações. Ele apresentou uma certidão de negativa de débitos ambientais, emitida pela Semarh, que atestava a inexistência de multas ou embargos ativos contra o produtor. Contudo, os embargos ainda estavam registrados no portal de transparência da Semarh.

Dênio Marinho, diretor de fiscalização da Semarh, explicou que a desatualização do site gerou confusão, mas confirmou que Comparin assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) relacionado às autuações, que foi firmado meses após a venda de soja à Bunge.

Consequências ambientais

Entre janeiro de 2022 e janeiro de 2023, 21 focos de calor foram identificados nas áreas embargadas da Fazenda São Francisco, conforme dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O desmatamento, seguido da queima de áreas, resulta em um ambiente hostil para a fauna, levando à perda de habitat e à diminuição da biodiversidade.

Daniel Guimarães, diretor de licenciamento do órgão ambiental estadual, ressaltou a importância de proteger a fauna e a biodiversidade, que são fundamentais para o equilíbrio ecológico. Atualmente, o governo do Piauí não realiza o monitoramento da fauna, o que impossibilita a avaliação dos animais afetados pelo desmatamento.

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