O plenário do Senado deliberou e aprovou, com uma votação expressiva, o nome do advogado Cristiano Zanin para ocupar uma cadeira no Supremo Tribunal Federal (STF). O resultado foi uma maioria de 58 votos favoráveis contra 18 contrários. A decisão foi tomada na noite desta quarta-feira (21), após uma sabatina de quase 8 horas na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
Durante a sabatina na CCJ, Zanin foi questionado por senadores sobre diversos temas. Apesar de ter o apoio de parlamentares governistas, membros da oposição expressaram preocupações sobre a imparcialidade de sua indicação ao STF pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com quem o advogado trabalhou diretamente em casos como os da Operação Lava Jato, do triplex e do sítio de Atibaia.
Zanin evitou tomar posições firmes sobre questões polêmicas que podem ser objeto de julgamento pela Suprema Corte, como a descriminalização do aborto e das drogas, e garantiu que se julgará impedido de participar de julgamentos que envolvam o presidente Lula. Segundo o advogado, “posições democráticas estão acima de quaisquer outros interesses”.
Em um questionamento feito pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), Zanin afirmou que o Estado não deve “eleger alguém como alvo” para depois buscar provas contra essa pessoa.
Cristiano Zanin Martins foi indicado por Lula em 1º de junho para ocupar a vaga deixada por Ricardo Lewandowski, que se aposentou em abril deste ano. Na época, Lula declarou: “Era esperado que eu indicasse Zanin para o STF, não apenas pela minha defesa, mas porque acredito que ele se tornará um grande ministro da Suprema Corte. Conheço suas qualidades, formação, trajetória e competência. E acho que o Brasil se orgulhará disso”.
Após a indicação, o advogado empreendeu uma série de visitas aos gabinetes dos senadores na tentativa de conquistar apoio para sua nomeação ao STF. Esse movimento, que envolveu tanto lideranças partidárias quanto parlamentares individuais, resultou na consolidação de apoio em bloco de diversos partidos. Essa abordagem é comum no Senado quando se trata de indicados a vagas que requerem aprovação política.
Quem é Cristiano Zanin
Com 47 anos de idade, Cristiano Zanin Martins se tornará um dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e exercerá sua função na Corte até novembro de 2050, considerando as regras atuais de aposentadoria compulsória aos 75 anos. Zanin ganhou notoriedade por defender o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em casos relacionados à Operação Lava Jato desde 2013. Lula chegou a ser condenado e preso, mas teve suas condenações anuladas pelo STF em decorrência dos recursos apresentados pelo advogado.
Foi Zanin quem recorreu ao Supremo, provocando uma reviravolta no cenário da Lava Jato, ao obter a declaração de parcialidade do ex-juiz Sérgio Moro e a reabilitação política de Lula.
Durante o período em que Lula esteve preso, o advogado assumiu um papel de porta-voz, fornecendo atualizações sobre a situação jurídica do ex-presidente a partir da saída da Polícia Federal em Curitiba. Como advogado, ele tinha acesso direto a Lula durante sua custódia na PF, onde o ex-presidente passou 580 dias detido em uma sala especial.
Nascido em Piracicaba, cidade de 400 mil habitantes no interior de São Paulo, localizada a 370 quilômetros da capital paulista, Zanin se formou em direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) em 1999. Ele é especializado em litígios estratégicos e decisivos, abrangendo áreas empresariais e criminais, tanto no âmbito nacional como transnacional.
Filho do também advogado Nelson Martins, Zanin frequentou escolas tradicionais e tinha o hábito de jogar futebol, que acabou abandonando devido à intensa carga de trabalho. Deixou sua cidade natal para cursar direito e iniciou sua carreira como estagiário no escritório do falecido desembargador José Manoel de Arruda Alvim Neto, a convite do professor Eduardo Arruda Alvim. Posteriormente, migrou para a banca do seu sogro, Roberto Teixeira.
Sogro de Zanin é amigo de Lula desde o fim dos anos 1970
Cristiano Zanin Martins entrou na vida do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por meio de seu sogro, com quem Lula mantém uma amizade de longa data desde os tempos das greves dos metalúrgicos no ABC paulista, nos anos 1970 e 1980. Zanin e seu sogro, membro fundador do PT, chegaram a ter uma sociedade de advocacia, mas romperam relações no ano passado. Vale ressaltar que Zanin nunca foi filiado a qualquer partido político.
O futuro ministro do STF e sua esposa, Valeska Teixeira Zanin Martins, mantêm um escritório de advocacia com sedes em São Paulo e Brasília. O casal, que possui três filhos, também colaborou na elaboração do livro “Lawfare: Uma Introdução”, onde apresentam a tese que embasou a defesa de Lula durante os processos da Lava Jato. Desde o início, adotaram uma estratégia de enfrentamento e confronto direto com a poderosa força-tarefa de Curitiba e o então juiz Sérgio Moro.
Em setembro de 2020, durante uma operação relacionada à Lava Jato no Rio de Janeiro, Zanin chegou a ser apontado como suposto líder de um esquema de fraudes no Sistema S (Senac, Sesi e Senai). O juiz Marcelo Bretas determinou uma operação de busca e apreensão na residência do advogado. Contudo, essas diligências foram posteriormente anuladas pelo STF.
Advogado enfrentou desconfianças de petistas