O Complexo Cultural Planaltina (CCP) transformou-se numa exuberante tela de arte, graças ao edital Planaltina Arte Urbana, que selecionou 15 artistas do grafite. Juntos, eles coloriram o equipamento cultural da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec). O objetivo era duplo: celebrar os dois anos do espaço e valorizar o trabalho, e a trajetória das grafiteiras e grafiteiros do Distrito Federal.
Essa festa de arte urbana, no domingo passado (4), contou com os traços do grafite feminino do Distrito Federal. Dos 15 selecionados, cinco foram mulheres, que expressaram pelas cores fortes das tintas mensagens de representatividade e empoderamento. Cada um dos escolhidos recebeu um cachê de R$ 1,5 mil.
Em quatro manhãs ensolaradas, Iasmin Kali, Quel, Nabrisa, May Bucar e Didi Colado coloriram as paredes com desenhos que remetem à cultura hip hop, abordando temas sociais no contexto histórico e cultural de Planaltina. Durante as pinturas realizadas em 18,4 m² (um paredão de 8 m de altura por 2,3 m de largura), as artistas trabalharam com emoções diferenciadas, como sentimento de inclusão social, diversidade, respeito, fraternidade e felicidade.
Crias da cidade
De Planaltina, a grafiteira Raquel Meneses, conhecida como “Quel”, confere à sua Região Administrativa relevância no trabalho de preservação do patrimônio, por se tratar de uma cidade centenária. Surpreendida com a iniciativa, a artista enxerga o desejo da população em querer ter uma cidade mais colorida pelo grafite.
Reconhecida por desenhos que retratam a beleza negra feminina, Quel pintou mulheres carregando seus turbantes, como símbolo de força e tradição histórica da primeira Região Administrativa do DF. “Tradição define a nossa morada. Escolhi Planaltina sendo representada no turbante, contando uma história. Ela é meio que como a namoradeira, nas janelas tradicionais dos casarões de Planaltina”, completou a gratifeita.
Também moradora de Planaltina, a grafiteira Iasmim Kali conta que, desde a inauguração do Complexo Cultural, sua expectativa era que tivesse um projeto para inserir a arte urbana no local. A artista explica que, com a arte urbana, a comunidade pode se expressar e enxergar novas possibilidades por meio das manifestações culturais. Em sua obra para o CCP, Iasmim retratou a vivência feminina nas festividades tradicionais da cidade, como a Festa do Divino.
“A mulher, além de cuidar da casa, dos filhos, ainda consegue organizar uma festa tão grandiosa, com trabalhos tão minuciosos. Grafito o empoderamento e a liberdade. Gosto do fato de mulher pintar outra mulher e retratar suas vivências reais, longe dos estereótipos”, destacou.
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Didi Colado conta que trabalha com arte urbana há quase sete anos, como participante e idealizadora de um coletivo feminino. A artista explica que, por participar do grupo de mulheres, garantiu visibilidade e forca artística, principalmente em um momento em que o ambiente do grafite era majoritariamente masculino.
Sobre sua obra estampada no CCP, Didi priorizou o significado místico e religioso que Planaltina carrega. “Esse trabalho tem um significado histórico por seus monumentos centenários e cultos religiosos, mas também conta com a ancestralidade da mulher preta que ainda faz muito pela economia local. Os traços finos dos monumentos lembram a xilogravura, uma arte típica nordestina”, detalhou.
Brilho feminino
Artista plástica e designer, May Bucar adotou o grafite como uma forma de ampliar seus desenhos. Cansada de telas pequenas e papéis de tamanhos convencionais, ela aposta nas paredes, onde estampa figuras femininas ou símbolos que remetam ao universo, acreditando na força da arte das mulheres.
“Mãe, filha, mulher e artista, carrego comigo um brilho no olhar de quem faz o que ama e por quem ama. O painel produzido em Planaltina é a imagem que tenho da cidade e suas referências do cerrado, é claro, sempre colorido e geométrico, como é sempre o meu trabalho”, explica.
Nascida em São Paulo, capital, mas há quase 20 anos morando no DF, a grafiteira Sabrina Falcão, 37 anos, a Nabrisa, escolheu como tema Tia Neiva, a criadora do Vale do Amanhecer, comunidade de espiritualistas próxima à cidade. “Busquei como tema do meu trabalho a representatividade feminina na história de Planaltina e assim cheguei à Tia Neiva”, revela.
*Com informações da Secretaria de Cultura e Economia Criativa
Edição: Freddy Charlson – Agência Brasília