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Economia

Ipea revisa para cima projeção do PIB do agronegócio

Crescimento da produção do setor pode ficar em 1,9%

Foto: Graziella BeHertzog

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revisou a projeção da taxa de crescimento do produto interno bruto (PIB) do setor agropecuário de 1,6% para 1,9% em 2020. O percentual anterior tinha sido divulgado pelo Ipea, no dia 1º de outubro, na Visão Geral da Carta de Conjuntura número 48.

De acordo com o Ipea, a revisão foi feita com base nas novas estimativas do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),para a produção agrícola em 2020, que foram divulgadas neste mês. Além disso, um estudo do Grupo de Conjuntura da Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea levou em consideração projeções próprias para a pecuária a partir dos dados das Pesquisas Trimestrais do Abate, Produção de Ovos de Galinha e Leite.

A estimativa de maior crescimento é resultado da melhora nas previsões do IBGE, em termos de valor adicionado, para componentes importantes da lavoura e de números mais positivos também para a pecuária, principalmente os que aparecem em revisões de dados de produção observados nos últimos meses. Para o valor adicionado da lavoura, o estudo prevê crescimento de 3,9% e, para o da pecuária, queda de 1,5%. Há projeção também de recuo de 6,4% para o componente “outros”, que tem relação com a indústria extrativa, que este ano sofreu forte impacto da pandemia, embora já esteja se recuperando.

O economista e pesquisador do Ipea Fábio Servo, um dos autores do estudo, disse que, apesar dessa estimativa, o percentual da pecuária já representa uma recuperação, porque a Carta de Economia Agrícola do Ipea estimava em agosto uma queda maior (-2,8%).

“A queda de 1,5% [na pecuária] é basicamente puxada por bovinos, que é o que pesa mais. A parte dos demais produtos pesa menos. O maior peso [nos resultados] é da lavoura, depois, vem a pecuária e, por último, a parte de “outros”. Dentro da pecuária, o bovino pesa mais, e ele teve problema. No ano passado, o desempenho foi muito alto, mas este ano já começou baixo e teve impacto no período mais grave da pandemia. Agora já está se recuperando. Lá atrás, a gente estava prevendo uma queda maia acentuada da pecuária”, disse Servo em entrevista à Agência Brasil.

Servo destacou que, no início do ano, o volume de abate de bovinos era menor, para que o produtor pudesse recompor o rebanho, que tinha sido reduzido pelo aumento do consumo de 2019. A produção de suínos tem recebido reforço das exportações para a China. “Suíno está crescendo fortemente. A participação da exportação de suínos na produção nacional era importante, e agora, mais importante que nunca. Não só porque está havendo substituição de proteínas para as mais industrializadas, que passam por processos sanitários. Nunca exportamos tanta carne suína para a China como agora”, afirmou.

Para o economista, não será surpresa se, quando os números de 2020 forem fechados, a queda for ainda menor tanto na pecuária quanto no componente “outros”. Ele disse acreditar que sim, porque todos os números que embasam as pesquisas do IBGE e os publicados no fim do ano estão sendo revistos para cima. “Está havendo uma melhora do cenário mais positivo. Nossa expectativa é de que haverá uma revisão para cima do PIB Agro do primeiro e do segundo trimestres [pelo IBGE]”, acrescentou Servo, ao lembrar que a demanda por alimentos – tanto a doméstica quanto a externa – continua alta.

“A mensagem dessa revisão é basicamente reforçar o cenário ainda mais positivo de recuperação para este ano e fechar o PIB Agro com 1,9%, mais uma possibilidade de revisão para cima na próxima carta da economia agrícola”, afirmou.

No trabalho, o Grupo de Conjuntura identificou que, em pelo menos três das principais lavouras – soja, milho e café –, ocorreu o comportamento de algumas das culturas mais relevantes que têm produção concentrada nos dois primeiros trimestres. De acordo com o Censo Agropecuário de 2006, essas culturas têm 98%, 68% e 61% de sua produção concentrada nos dois primeiros trimestres, respectivamente.

Fatores positivos

Para Fábio Servo, dois fatores trabalharam a favor do setor agropecuário este ano, a despeito da crise provocada pela pandemia de covid-19. O primeiro é o fato de um setor que produz alimento e que, mesmo na crise, até por questões de saúde, as pessoas demandam, e paralelamente houve aumento expressivo de exportações de proteína animal bovina e suína para a China. A expectativa é o bom resultado no final de 2020 com alta de 7,8% na produção dessa carne.

“Como a pandemia na China antecedeu a das Américas, quando a gente entrou nos tempos da pandemia, eles já estavam saindo e tinham necessidade de recompor estoques de alimentos e até de [formar] estoques prudenciais, pensando em uma perspectiva de segurança alimentar. Ainda assim, a produção de bovinos no segundo trimestre performou muito mal. Então, ficamos na expectativa de melhora, na medida em que houvesse uma normalização com o fim do lockdown e a continuidade das exportações dessas carnes. É isso que tem sido visto”, observou.

Fábio Servo destacou ainda o impacto do auxílio emergencial, que favoreceu a demanda por alimentos no Brasil. “O impacto da covid-19 acabou sendo menor no segmento, porque a demanda interna e a externa continuaram aquecidas. É um setor estratégico. Normalmente, o que se vê é a substituição quando o preço está mais alto, mas, de uma forma geral, a demanda dos brasileiros continuou elevada, ajudada também pelo auxílio emergencial. O governo adotou medidas para fazer com que os brasileiros tivessem recursos para poder manter o padrão de consumo, o que é importante em um momento de crise, principalmente de alimentos”, completou.

Projeção para 2021

Para o ano que vem, o Grupo de Conjuntura revisou a projeção de crescimento do PIB agropecuário de 2,4% para 2,1%. A revisão para baixo dos números estimados para 2021 é reflexo do aumento da base de comparação, com o melhor resultado esperado para 2020.

Conforme o boletim, divulgado hoje, essa alta da base de comparação em 2020 “é consequência de estimativas mais otimistas para as safras de soja e de milho do IBGE este ano. Essas culturas anteciparão parte da safra do início do próximo ano para o fim deste ano”. Para o próximo ano, foram usadas as projeções do primeiro levantamento do Boletim de Grãos da Safra 2020/2021 da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e de lavoura da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

Por: Cristina Indio do Brasil/Agência Brasil

Brasil

Rodada de investimentos com países do G20 garante US$ 1,7 bi à OMS

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A Organização Mundial de Saúde (OMS) recebeu um total de 70 promessas de doações pelos países participantes da Cúpula dos Líderes do G20. Mais da metade delas foram realizadas por contribuidores inéditos. Somadas, elas irão garantir US$ 1,7 bilhão em recursos.

Os dados foram apresentados pelo diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom. Ao lado do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e da ministra da Saúde, Nísia Trindade, Adhanom afirmou que os recursos criam um cenário mais favorável, pois dão previsibilidade ao financiamento global das ações de saúde, e dão flexibilidade para implementar as repostas necessárias.

“Nas últimas décadas, somente uma pequena parcela do financiamento era previsível”, disse Tedros Adhanom, agradecendo o apoio de Lula na realização da rodada de investimentos durante a Cúpula dos Líderes do G20. Ele disse ainda que as doações permitem financiar novas iniciativas em busca de um mundo mais justo e mais seguro.

“A rodada de investimentos mobilizou recursos para poder implementar a estratégia global da OMS para manter o mundo seguro e salvar 40 milhões de vidas durante os próximos 40 anos”. Tedros Adhanom destacou a importância de manter os esforços para continuar a construir uma base de doadores mais resiliente. Ele pediu que os 194 Estados membros da OMS contribuam com o fornecimento de fundos previsíveis.

G20

O G20 é composto pelas 19 maiores economias do mundo, bem como a União Europeia e mais recentemente a União Africana. Ocupando atualmente a presidência do grupo, o Brasil organizou a Cúpula dos Líderes no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro. Além das nações integrante do G20, estiveram representadas também diversas outras na condições de convidadas, além de nomes vinculados a organismos multilaterais.

É a primeira vez que o Brasil preside o G20 desde que foi implantado o atual formato do grupo em 2008. A Cúpula dos Líderes é o ápice do mandato brasileiro. Agora, a África do Sul sucederá o Brasil na presidência do grupo.

Ao lado de Tedros Adhanom, Lula cobrou os países desenvolvidos por mais investimentos em saúde. De acordo com ele, as guerras ao redor do mundo consomem um orçamento de US$ 2,4 trilhões ao ano. “Vocês imaginem que para destruir vidas e a infraestrutura que demorou décadas para ser construída por pessoas, os países ricos investem muito mais do que para salvar vidas. Essa é a contradição do mundo que nós vivemos hoje”, lamentou.

Lula disse que o objetivo do Brasil na presidência do G20 foi colocar como centro da prioridade o combate à fome e as necessidades das pessoas. Ele afirmou que há autoridades que desconhecem o que é a pobreza. “O problema não é falta de dinheiro, é falta de definir prioridade”, disse.

Citando a pandemia de covid-19 como exemplo da desigualdade, Lula afirmou que faltou respiradores e vacinas em alguns países e sobraram em outros. “Uma coisa que o Brasil buscou no G20 foi dar às pessoas que têm responsabilidade de cuidar da saúde a segurança de que teremos investimentos naquilo que é básico para evitar doenças que não deveriam existir”, acrescentou.

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Economia

Alemanha arrecada bilhões com imposto sobre cães e inspira outros países europeus

A Alemanha registrou arrecadação recorde com o imposto sobre cães, superando 2,6 bilhões de reais em 2023. Medida ajuda na saúde pública e controle animal

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Foto: Reprodução

Na Alemanha, ter um cachorro vai além das despesas com alimentação e cuidados veterinários: também inclui o pagamento de impostos. Em Berlim, o custo anual é de EUR 120 (cerca de R$ 740) para um único animal, subindo para EUR 180 (R$ 1.100) no caso de dois cães. Raças consideradas perigosas implicam em valores ainda maiores.

Em 2023, o país atingiu uma arrecadação recorde com a tributação sobre cães, totalizando EUR 421 milhões (R$ 2,6 bilhões). A expectativa é que, seguindo a tendência, o valor se aproxime de meio bilhão de euros no próximo ano. Esse crescimento de mais de 40% na última década transformou o modelo alemão em uma referência para países vizinhos, como a França, que enfrenta desafios orçamentários significativos.

Saúde pública e fiscalização rigorosa

O imposto, regulamentado pela “Lei Fiscal sobre Cães” de 2001, sustenta um rigoroso sistema de controle. Todo cachorro nascido ou levado a Berlim deve ser registrado e identificado com um chip, procedimento que custa EUR 17,50 (R$ 108). A não conformidade pode gerar multas de até EUR 10 mil (R$ 62 mil).

A fiscalização é rígida: donos podem ser multados se não recolherem as fezes do animal ou não portarem saquinhos para isso, com penalidades variando entre EUR 35 e EUR 250 (R$ 216 a R$ 1.500). Andar com cães sem guia é permitido apenas para quem conclui um curso de treinamento que atesta o controle sobre o animal.

Impacto na comunidade e aceitação

Além de minimizar o abandono, o sistema garante estrutura urbana para os pets, como latas de lixo específicas e áreas limpas. “O imposto parece justo. Há toda uma estrutura para convivermos com os animais”, afirma Babbete T., professora universitária, dona da vira-lata Luca, que veio de um abrigo na Itália.

Curiosamente, os gatos não estão sujeitos a essa tributação, o que reforça as diferenças na convivência com os animais de estimação.

Modelo cultural e econômico

Com cães presentes em espaços públicos como shoppings e restaurantes, o sistema alemão exemplifica como a tributação pode ser uma ferramenta eficiente para saúde pública, bem-estar animal e convivência urbana. Outros países europeus começam a olhar para esse modelo como uma forma de reforçar seus próprios orçamentos e estruturar políticas similares.

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Economia

Regulamentação da cannabis no Brasil: oportunidade bilionária ou desperdício de potencial?

Entenda como a regulamentação pode transformar um mercado com potencial de R$ 26 bilhões e impulsionar o país na corrida global da cannabis

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Foto: Divulgação

A cannabis sativa tem ganhado cada vez mais espaço no Brasil, mas o mercado ainda patina na falta de regulamentação. Estima-se que, com regras claras, o setor possa movimentar até R$ 26 bilhões anuais no país, um salto considerável frente ao atual volume de R$ 1 bilhão. Globalmente, o mercado da planta atinge cifras de US$ 647 bilhões, liderado por países como Estados Unidos, Canadá e México.

Nas últimas semanas, três eventos reacenderam o debate sobre a regulamentação: a 2ª Expocannabis, em São Paulo, destacou os usos variados da planta; o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) liberou o cultivo para fins medicinais; e Recife aprovou uma lei para fomentar a cadeia produtiva da cannabis medicinal. Apesar desses avanços pontuais, a ausência de uma estrutura legal abrangente compromete o desenvolvimento do setor, que poderia beneficiar desde a pesquisa científica até a geração de emprego e renda.

Pesquisa travada

A falta de regulamentação não só restringe o mercado, mas também emperra avanços científicos. Um exemplo é a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), conhecida por adaptar culturas ao clima brasileiro e impulsionar a produção de soja, milho e cana-de-açúcar. A instituição ainda aguarda autorização da Anvisa para plantar cannabis sativa e dar continuidade a estudos que podem viabilizar o cultivo em larga escala.

“O Brasil tem um potencial imenso nesse mercado, mas sem o cultivo e as pesquisas, continuamos atrasados. Precisamos de variedades adaptadas ao nosso clima e resistentes a pragas, algo que só conseguiremos com mais pesquisas em campo”, ressalta Daniela Bittencourt, pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia.

Regulamentar para prosperar

A regulamentação é fundamental para destravar o mercado e acompanhar os mais de 50 países que já possuem leis claras para o setor. Padrões de produção, fiscalização rigorosa e políticas de incentivo são pilares que podem transformar o Brasil em um líder na cadeia produtiva da cannabis.

No cenário atual, o país perde tempo e recursos, enquanto outros consolidam suas posições nesse mercado estratégico. Com regras bem definidas, o Brasil não apenas atenderia às demandas internas, como também abriria portas para exportação, ampliando sua competitividade global.

Um futuro promissor, mas incerto

Apesar dos entraves, iniciativas como a aprovação de leis regionais e a autorização de pesquisas indicam que há avanços, ainda que tímidos. Contudo, sem uma regulamentação robusta, o país corre o risco de continuar sendo um espectador em um mercado que já é referência mundial.

O debate, mais urgente do que nunca, transcende o potencial econômico: ele envolve saúde, ciência e a possibilidade de transformar o Brasil em um protagonista no mercado global da cannabis.

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