A vitimização é um traço que aparece com muita frequência nas pessoas que procuram ajuda psicológica em busca de um bálsamo para as dores da sua alma. O maior empecilho para a mudança desse perfil são as crenças distorcidas e o forte apego à autoimagem idealizada, observada na fantasia de que é sempre o outro o grande causador da sua infelicidade.
É importante descobrir quais são as bases que sustentam essa imagem idealizada. O intuito aqui é apresentar alguns sinais que podem auxiliar você a identificar se faz da vitimização o seu estilo de vida. Seja atento e sincero, pois essa descoberta é o primeiro e mais importante passo para alcançar a transformação que tanto almeja. Vamos a eles?
1) Você sempre se vê como uma excelente pessoa, mas que não teve sorte na vida nem nos relacionamentos?
2) Você acredita que dá o melhor de si e que só atrai pessoas que querem se aproveitar de você?
3) Você sempre encontra um culpado ou responsável pelo seu sofrimento ou problema que está passando?
4) Você tem mais lamentações do que alegrias para compartilhar?
5) Você frequentemente fala de fracassos, perdas, traições e dificuldades na vida?
6) Você é expert em fazer grandes sacrifícios pelos outros, sem que ninguém lhe peça?
7) Você sempre se sente carente e exige atenção, cuidados, apoio e carinho?
8) Você acredita que sua vida hoje tem muito a ver com a sua infância sofrida?
9) Você tem grande apego ao seu passado e ele continua como referência para suas ações presentes?
10) Você não perdoa com facilidade?
Agora sugiro que dê uma pausa nessa leitura e avalie com muita sinceridade:
O que você recebe de retorno do mundo está lhe deixando feliz?
Você tem bons relacionamentos e se sente aceita e amada pelo seu círculo familiar, de amizade, do trabalho, no seu relacionamento conjugal?
Se sua resposta for um “não” para qualquer das perguntas acima, você vai perceber que essa postura lhe traz exatamente o oposto do que você deseja.
Então, vamos entender um pouco mais sobre a vitimização e as possibilidades de libertação desse processo em você?
O dicionário online de português descreve o vitimismo como: “sentimento de ser vítima; sensação de quem está ou foi sujeito à opressão, maus-tratos, arbitrariedades, discriminação etc. Geralmente de quem tem sempre essa percepção sobre o que lhe acontece: sua vida não avança porque o vitimismo não a deixa.”.
Sigmund Freud, pai da psicanálise, nos apresenta o conceito de projeção e caracteriza esse comportamento como um mecanismo defensivo que a mente encontra para minimizar a ansiedade. Uma vez que os impulsos inconscientes e indesejados são projetados em outra pessoa.
A “vítima” projeta nas outras pessoas os próprios pensamentos, comportamentos e emoções que são julgados como inaceitáveis pela sua mente. Essa forma distorcida de enfrentar a realidade acaba blo- queando a sua autocrítica e a capacidade de avaliar racionalmente as situações cotidianas.
Podemos perceber esse comportamento nas justificativas apresentadas diante dos fracassos – “O meu chefe não gostava de mim e por isso me despediu” ou “Não passei no vestibular por que…” e assim por diante.
Uma das estratégias dos vitimistas é a manipulação emocional e, embora ela traga mais benefício do que problema em curto prazo, não é o que acontece no decorrer da vida, pois as pessoas, do seu círculo de relacionamentos, acabam se cansando de sofrer com as chantagens emocionais e muitas tendem a abandonar a relação.
O forte apego ao vitimismo se dá devido aos ganhos secundários, presentes em todos os quadros de adoecimento, sejam eles, físicos ou mentais. A “vítima” exige atenção e cuidados que, na maioria das ve-zes, são dispensados pelos outros na tentativa de não magoá-la. Geralmente é hipersensível, tende a distorcer qualquer assunto considerando-os como ofensa pessoal e, consequentemente, cria a maior confusão, ataca e acusa os outros com muita intolerância.
Eva Pierrakos informa que muitas vezes essa autoimagem idealizada impõe altos padrões morais que dificultam ainda mais a compulsão em negar a imperfeição presente no momento. O medo de se expor, o disfarce, a tensão, a culpa e a ansiedade reforçam a falsa pretensão imposta pelo eu idealizado e acaba impedindo a pessoa de aceitar-se como é no presente.
Embora existam facetas do eu idealizado que não podem ser consideradas boas, éticas e morais, como é o caso das tendências agressivas, hostis, arrogantes e ambiciosas, muitas vezes são exaltadas por algumas vítimas, por acreditarem que elas constituem prova de força, independência e superioridade.
Na maioria dos casos, existe uma combinação dos padrões morais superexigentes com o orgulho de ser invulnerável, distante e superior.
Muitas crises pessoais se originam desse dilema interno – o forte apego à autoimagem idealizada, mais do que qualquer outro problema de ordem externa.
É muito importante perceber esse padrão repetitivo e como ele se apresenta em sua vida e, partindo dessa percepção consciente, por meio do autoconhecimento, ir se aproximando do seu verdadeiro eu.
Quem sou eu realmente? Buscando responder a essa pergunta de maneira profunda, você permite que a sua intuição lhe mostre o caminho a ser seguido como uma oportunidade de crescimento e desenvolvimento.
Ao seguir esse caminho, você percebe a autopunição que se impõe quando se vê diante dos fracassos e dos seus sentimentos de raiva, mesmo que projetados nos outros, mas que continuam reverberando contra você mesmo e provocando doenças, perdas, acidentes e fracassos exteriores sob as mais varia- das formas.
Como saber onde começou esse
padrão destrutivo?
Em regra ele começa na infância e nas relações parentais.
A falta de amor maduro e de afeto suficiente transformou essa carência em feridas, que ainda não foram tratadas adequadamente e continuam clamando de forma, muitas vezes inconsciente, esse retorno ao passado.
É somente por meio do autoconhecimento que você poderá chegar a um acordo com as mágoas, decepções e necessidades não satisfeitas e, como adulto, assumir a responsabilidade de realizar em você as mudanças que a criança ferida vem se propondo a realizar, ao recriar situações semelhantes às vividas no passado.
A partir dessas descobertas e na busca por um estilo de vida mais prazeroso, leve e feliz, um bom começo seria:
1) Aceitar, respeitar e valorizar-se como é, sem medo, sem condenação e sem rótulos.
2) Assumir suas falhas e erros sem projetá-los em ninguém.
3) Desistir de resolver os problemas familiares, de amigos ou pessoas próximas e conhecidas, limitando se apenas a contribuir caso lhe solicitem.
4) Aceitar dar um “não” como resposta às solicitações de terceiros quando não está disponível internamente para atendê-los.
5) Abandonar a necessidade de ser sempre bonzinho/boazinha.
6) Deixar de cobrar e esperar a retribuição das suas ações ou do reconhecimento delas.
7) Parar de culpar as pessoas e assumir a responsabilidade por tudo que lhe acontece e, a partir daí, fazer escolhas mais assertivas.
8) Ser autêntico e não precisar se esforçar para agradar.
9) Desapegar-se de todos os medos e traumas vividos na infância e assumir a responsabilidade de ser feliz no presente.
10) Agradecer pelas experiências vividas e conseguir praticar o perdão.
A psicoterapia pode ajudar você a ressignificar a sua história pelo desenvolvimento de uma percepção mais realista do mundo e de si mesmo. É preciso parar de olhar para fora e começar a olhar para dentro Não tenha medo de mergulhar com profundidade. É no fundo do mar que se encontram os tesouros naufragados e também é no mergulho mais profundo no interior do seu Ser que você vai se descobrir e se encantar!
Não estou querendo dizer que esse mergulho seja fácil, pois sei das dificuldades e dores a serem en- frentadas, apenas lhe afirmo que vale a pena pagar o preço da transformação. Resgate-se! Vá em busca do seu maior tesouro!
Por: Erocilda Gabriel de Lima
IMPI–Instituto de Medicina e Psicologia Integradas
RT: Dalmo Garcia Leão CRM 4453
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